domingo, 27 de junho de 2010

Seguindo Caminho


Labirinto da Catedral de Chartres

Vamos dedicar um pensamento a todos aqueles que, século
após século, tomavam o bordão do perergrino, fossem
pagãos ou cristãos, e partiam por estradas, que mal
chegavam a ser trilhos, através de rios, que quase
se não podiam vadear, pelo meio de florestas, onde o lobo
caçava em alcateias, através de pauis de lama movediça,
onde se enluravam serpentes-de-água venenosas:
sujeitos à chuva, aos temporais ventosos, ao granizo saraivante,
atingidos pelo Sol ou gelados pelo frio, tendo à noite,
como único abrigo, a fralda do hábito puxada
por cima da cabeça; tudo isto depois de deixarem lar
e família sem saber se os voltariam a ver,
para chegar - pelo menos uma vez na vida
- a um lugar onde habitava a divindade.

Louis Charpentier, The Mysteries of Chartres Cathedral

segunda-feira, 21 de junho de 2010

LITHA


Edward Robert Hughes, Midsummer Eve

21 de Junho - neste dia, o mais longo do ano, a luz e a vida são abundantes. É nesta data que o Deus Sol (o Pai) atinge o seu poder máximo, antes de morrer, e é então representado usando uma coroa de rosas; as flores e os espinhos simbolizam as duas pulsões vitais, a fertilidade e a morte, Eros e Thanatos.

A Deusa está prenhe, tal como a Terra Mãe está verde e promete boas colheitas. As festas do Solstício de Verão focam a atenção do indivíduo para fora de si mesmo, para a natureza em todo o seu esplendor, experimentando a alegria da plenitude e da abundância, ao provar os primeiros frutos da estação.

Este dia marca o princípio do declínio da força do Sol, mas a estação é em si mesma erótica. O Sol, as flores e a Terra estão em pleno desabrochar, criando uma atmosfera de paixão. Em algumas tradições,os grupos wiccans praticam nesta altura a cópula ritualizada. Outras tradições colocam os rituais eróticos nas festas de BELTANE.

São rituais com paralelos noutras religiões. O culto do deus grego Dionísio tinha celebrações semelhantes, onde a pulsão erótica era confrontada com o seu par, tanto antagonista como complementar, a pulsão da morte.

É o dia em que Reia, a Montanha-Mãe de Creta, expirou toda a criação. Na China, é o dia do festival da deusa Li, a deusa da Luz.

Apesar de não ser a data exacta do Solstício, convencionou-se que seria celebrado no dia 24 de Junho, que mais tarde se tornou o dia de S.João (Jesus e João são ambos filhos do Espírito Santo, anunciados por um anjo a mulheres que julgavam não poder conceber - Maria era ainda virgem e Isabel já demasiado velha. De acordo com o paralelo das histórias da sua concepção, estes dois "irmãos" são celebrados nos Solstícios opostos).

Tal como Moisés, S.João Baptista aparece muitas vezes representado com cornos. Para os cristãos eram raios de luz que lhe saíam da cabeça,mas os pagãos identificaram-no com Cerunnos, o homem selvagem dos bosques vestido de peles, com cornos na cabeça, que habitava os sítios ermos (parecendo ter havido uma paganização de um santo católico!).

As fogueiras de S.João tinham o propósito de afastar os maus espíritos. As pessoas saltavam-nas para dar sorte e as ruas eram iluminadas com lanternas. O povo fazia procissões com candeias no topo de varas enfeitadas com grinaldas, fazendo um percurso para visitar as várias fogueiras. Estas procissões eram acompanhadas de dançarinos de morris (dança tradicional inglesa) e gente disfarçada de dragão, de unicórnio e outros seres.

Tal como BELTANE era a data de reparar as vedações da propriedade particular, LITHA era o dia de reparar os limites das povoações (muralhas, paliçadas). Outra tradição, só levada a cabo pelos mais valentes, era a de passar esta noite no meio de círculo de pedras (um cromlech), uma espécie de iniciação em que o indivíduo adquiria o poder da inspiração para se tornar um poeta ou um bardo.

Também era a noite em que as serpentes se juntavam e rolavam num novelo, engendrando um glain, chamado "ovo das serpentes", "pedra das serpentes" ou "ovo dos druidas". Alguém que conseguisse obter esta bola, adquiria enormes poderes mágicos. Numa lenda galesa, Merlin também vai à procura deste ovo, acompanhado pelo seu cão preto.

Nesta noite, os duendes estavam particularmente animados e podiam ser vistos se um indivíduo esfregasse sementes de feto nas pálpebras enquanto o relógio batia a meia-noite. No entanto, para fazer isto e continuar protegido (os duendes não gostam que os vejam), era também necessário ter um pouco de arruda na algibeira ou, na sua falta, usar o casaco vestido do avesso. Falhando estes estratagemas, o indivíduo só ficaria a salvo se conseguisse atravessar água corrente.



A tradição manda também decorar a casa com ramos de bétula, funcho, erva de S.João e lírios brancos, especialmente sobre a porta principal.

Cinco plantas têm propriedades mágicas especiais durante esta noite: a arruda, as rosas, a erva de S.João, a verbena e o trevo.

Os ícones principais para este dia são a esfera, símbolo do Deus Sol na sua plenitude, e o caldeirão, símbolo da generosidade da Deusa. Os outros símbolos são o fogo, as penas, as espadas (ou as lâminas em geral) e os discos que representam o Sol.

As cores de LITHA são o verde, o amarelo e o dourado, e as deidades para este Sabbat são os deuses de maior força e poder, as deusas grávidas e as deusas da luxúria. A Deusa toma o aspecto da Mãe.


in Wicca - A Velha Religião do Ocidente, de García Baptista

domingo, 20 de junho de 2010

La Morte D'Arthur


Edward Burne-Jones, Last Sleep of Arthur in Avalon

La Morte D'Arthur

So all day long the noise of battle rolled
Among the mountains by the winter sea;
Until King Arthur's table, man by man,
Had fallen in Lyonnesse about their Lord,
King Arthur: then, because his wound was deep,
The bold Sir Bedivere uplifted him,
Sir Bedivere, the last of all his knights,
And bore him to a chapel nigh the field,
A broken chancel with a broken cross,
That stood on a dark strait of barren land.
On one side lay the Ocean, and on one
Lay a great water, and the moon was full.


Then spake King Arthur to Sir Bedivere:
" The sequel of today unsolders all
The goodliest fellowship of famous knights
Whereof this world holds record. Such a sleep
They sleep -the men I loved. I think that we
Shall never more, at any future time,
Delight our souls with talk of knightly deeds,
Walking about the gardens and the halls
Of Camelot, as in the days that were.
I perish by this people which I made, -
Though Merlin sware that I should come again
To rule once more -but let what will be, be,
I am so deeply smitten through the helm
That without help I cannot last till morn.
Thou therefore take my brand Excalibur,
Which was my pride: for thou rememberest how
In those old days, one summer noon, and arm
Rose up from out the bosom of the lake,
Clothed in white samite, mystic, wonderful,
Holding the sword -and how I rowed across
And took it, and have worn it, like a king:
And, wheresoever I am sung or told
In aftertime, this also shall be known:
But now delay not: take Excalibur,
And fling him far into the middle mere:
Watch what thou seest, and lightly bring me word."

(...)

Then quickly rose Sir Bedivere, and ran,
And, leaping down the ridges lightly, plunged
Among the bulrush-beds, and clutched the sword,
And strongly wheeled and threw it. The great brand
Made lightnings in the splendour of the moon,
And flashing round and round, and whirled in an arch,
Shot like a streamer of the northern morn,
Seen where the moving isles of winter shock
By night, with noises of the northern sea.
So flashed and fell the brand Excalibur:
But ere he dipped the surface, rose and arm
Clothed in white samite, mystic, wonderful,
And caught him by the hilt, and brandished him
Three times, and drew him under in the mere.
And lightly went the other to the King.

(...)

Then saw they how there hove a dusky barge,
Dark as a funeral scarf from stem to stern,
Beneath them; and descending they were ware
That all the decks were dense with stately forms
Black-stoled, black-hooded, like a dream -by these
Three Queens with crowns of gold -and from them rose
A cry that shivered to the tingling stars,
And, as it were one voice, an agony
Of lamentation, like a wind, that shrills
All night in a waste land, where no one comes,
Or hath come, since the making of the world.


Then murmured Arthur, "Place me in the barge,"
And to the barge they came. There those three Queens
Put forth their hands, and took the King, and wept.
But she, that rose the tallest of them all
And fairest, laid his head upon her lap,
And loosed the shattered casque, and chafed his hands,
And called him by his name, complaining loud,
And dropping bitter tears against his brow
Striped with dark blood: for all his face was white
And colourless, and like the withered moon
Smote by the fresh beam of the springing east;
And all his greaves and cuisses dashed with drops
Of onset; and the light and lustrous curls -
That made his forehead like a rising sun
High from the dais-throne -were parched with dust;
Or, clotted into points and hanging loose,
Mixed with the knightly growth that fringed his lips.
So like a shattered column lay the King;
Not like that Arthur who, with lance in rest,
From spur to plume a star of tournament,
Shot through the lists at Camelot, and charged
Before the eyes of ladies and of kings.


Then loudly cried the bold Sir Bedivere,
" Ah! my Lord Arthur, whither shall I go?
Where shall I hide my forehead and my eyes?
For now I see the true old times are dead,
When every morning brought a noble chance,
And every chance brought out a noble knight.
Such times have been not since the light that led
The holy Elders with the gift of myrrh.
But now the whole ROUND TABLE is dissolved
Which was an image of the mighty world;
And I, the last, go forth companionless,
And the days darken round me, and the years,
Among new men, strange faces, other minds."


And slowly answered Arthur from the barge:
" The old order changeth, yielding place to new,
And God fulfils Himself in many ways,
Lest one good custom should corrupt the world.
Comfort thyself: what comfort is in me?
I have lived my life, and that which I have done
May He within Himself make pure! but thou,
If thou shouldst never see my face again,
Pray for my soul. More things are wrought by prayer
Than this world dreams of. Wherefore, let thy voice
Rise like a fountain for me night and day.
For what are men better than sheep or goats
That nourish a blind life within the brain,
If, knowing God, they lift not hands of prayer
Both for themselves and those who call them friend?
For so the whole round earth is every way
Bound by gold chains about the feet of God.
But now farewell. I am going a long way
With these thou seest -if indeed I go -
(For all my mind is clouded with a doubt)
To the island-valley of Avilion;
Where falls not hail, or rain, or any snow,
Nor ever wind blows loudly; but it lies
Deep-meadowed, happy, fair with orchard-lawns
And bowery hollows crowned with summer sea,
Where I will heal me of my grievous wound."


So said he, and the barge with oar and sail
Moved from the brink, like some full-breasted swan
That, fluting a wild carol ere her death,
Ruffles her pure cold plume, and takes the flood
With swarthy webs. Long stood Sir Bedivere
Revolving many memories, till the hull
Looked one black dot against the verge of dawn,
And on the mere the wailing died away.

La Morte D'Arthur (excerto) de Lord Alfred Tennyson

Artur

AS LENDAS ARTURIANAS

O mito tende a ignorar as realidades históricas do tempo e do espaço. Tais inconsistências, entre facto e ficção, são inevitáveis quando homens e mulheres reais se tornam heróis e heroínas lendários, não sendo em parte alguma isso mais notório do que nas lendas arturianas.

O reinado de Artur marcou uma era de ouro da Bretanha, uma época de cavalheirismo na guerra e no amor e, durante séculos, escritores e artistas romantizaram a sua história. O Artur histórico “real” foi sempre quase inteiramente transformado pelas lendas românticas dos períodos medieval e moderno. As primeiras narrativas do homem, como se encontram na History of Britons do século XIX, e na History of the Kings of Britain do século XII, por Geoffrey de Monmouth, são duvidosas e extremamente discutíveis. Contudo, o uso cauteloso destas fontes, juntamente com a “evidência” mítica, aponta para um famoso guerreiro romano-britânico céltico (de seu nome provável Artorius), a combater por uma Bretanha deixada indefesa pela partida das legiões romanas, nos princípios do século V. Os inimigos de Artur incluíam, provavelmente, os Pictos célticos e os Escoceses, embora as suas batalhas principais pareçam ter sido contra os Anglo-Saxões não célticos.


O rei Artur (mosaico da catedral de Otranto, Itália; séc.XII)

Artur é sem dúvida o mais conhecido dos heróis celtas. Era o mais popular na Idade Média, quando as façanhas dos cavaleiros da Távola Redonda impressionavam a maior parte da Europa Ocidental. Foi com alguma apreensão que a Igreja permitiu que uma versão cristianizada destes mitos celtas assumisse um papel tão importante na imaginação medieval. A ortodoxia nunca viu com bons olhos a história do Graal, ou Sangreal, que José de Arimateia teria trazido à Grã-Bretanha, já que as propriedades mágicas do cálice eram facilmente identificáveis com as do caldeirão celta, um vaso de abundância e renovação.

Os poemas de Chrétien de Troyes, escritor do século XII, dão-nos as versões mais antigas do romance arturiano – as delicadas convenções medievais do amor cortês estão condensadas no amor de Lancelot pela rainha Guinevere; rudes guerreiros de tradição céltica são transformados em perfeitos cavaleiros; e as heróicas buscas de testemunhos druídicos tornaram-se peregrinações cristãs em busca do Santo Graal. Muitos outros romances arturianos medievais se seguiram e os contos do rei Artur e dos seus Cavaleiros da Távola Redonda em breve se tornaram conhecidos em toda a Europa. Gradualmente, estas histórias, ligadas entre si de uma maneira vaga, foram reunidas em versões “completas”, tal como os feitos dos vários cavaleiros foram tecidos em redor da figura heróica central do rei Artur, tendo sido também incorporados aqueles que, originalmente, eram romances não arturianos, como Tristão e Isolda.


Howard David Johnson

A versão em prosa de Sir Thomas Malory, La Mort d’ Arthur, de 1485, foi uma das primeiras obras impressas em inglês. No fim do século XVIII e durante o século XIX, os escritores românticos fizeram reviver os romances arturianos medievais, que culminaram, no período vitoriano, com o poema de Lord Alfred Tennyson, Idylls of the King. O mundo musical explorou igualmente os romances: o compositor alemão Wagner reuniu enormes audiências para as suas óperas arturianas românticas Lohengrin, Parsifal e Tristão e Isolda.

ARTUR ( - uma versão)

Num castelo sombrio construído sobre um promontório rochoso que avança mar adentro, Igraine aguarda o regresso do marido, Gorlois, Duque da Cornualha. Não é ele porém, quem entra nessa noite no seu quarto, e sim Uther Pendragon, o rei da Bretanha - a quem o mágico Merlin deu a aparência de Gorlois, a fim de satisfazer a paixão ilícita do rei por Igraine e concretizar o maior plano da vida de Merlin. É concebido um filho. Merlin apodera-se do filho de IgraIne e entrega-o ao bom Sir Ector para que o eduque como seu filho... Assim começa a história do lendário rei Artur.



Quando Uther Pendragon morreu, os Cavaleiros da Távola Redonda tiveram grandes dificuldades em nomear um novo rei e decidiram recorrer ao conselho de Merlin. O mago disse-lhes que o sucessor de Uther seria aquele que conseguisse retirar uma espada mágica de uma pedra que aparecera misteriosamente em Londres. Vários cavaleiros tentaram arrancar a espada da pedra, mas nenhum conseguia fazê-la mover-se.

Artur foi a Londres assistir ao seu primeiro torneio, onde participava um cavaleiro a quem Merlin entregara a tutela do rapaz. Não conseguindo localizar a sua espada, o cavaleiro disse a Artur que lhe fosse buscar uma. Sem perceber o significado da espada na pedra, Artur retirou-a e entregou-a ao amo abismado. Deste modo se descobriu o herdeiro de Uther Pendragon.



Mesmo assim, alguns cavaleiros não aceitaram a soberania do rei Artur. O jovem rei teve de recorrer à ajuda de Merlin para derrotar os seus opositores e restaurar a paz na Britânia. Artur apercebeu-se desde cedo que o seu poder dependia muito da magia. Tendo uma vez desembainhado a espada sem razão contra um dos seus cavaleiros, Artur viu com espanto a lâmina despedaçar-se. Merlin salvou-o adormecendo o cavaleiro, pois Artur estava desarmado. Desesperado, o rei vagueou sem destino até se encontrar nas margens de um lago onde, estupefacto, viu uma mão emergir da água com uma outra espada mágica. Tratava-se de Excalibur, o seu apoio seguro, segundo as palavras da Dama do Lago, que lha entregou.

De novo armado e tranquilo, Artur tornou-se num grande rei. Sob o seu benévolo domínio, a Bretanha goza 12 anos de paz, época em que se assiste ao grande florescimento da cavalaria. Arthur chama ao seu castelo de Camelot. Artur derrotou os anglo-saxões, ajudou o rei Leodegraunce da Escócia nas suas batalhas contra os irlandeses e liderou campanhas em lugares tão afastados do seu reino como Roma. Como recompensa pelo auxílio prestado, Leodegraunce prometeu a Artur a mão da sua filha Guinevere. A princípio, Merlin opôs-se ao casamento, pois sabia que Guinevere estava apaixonada por Sir Lancelot, o mais belo dos Cavaleiros da Távola Redonda. Mas depois abençoou o casal e, segundo um dos mitos, deu a Artur a Távola Redonda como prenda de casamento.

O engenhoso Merlin arquitectara em tempos para Uther Pendragon uma magnífica praça-forte onde colocara a famosa Távola Redonda, que acomodava cento e cinquenta cavaleiros sentados. Os que ali se sentam são ensinados por Merlin a evitar o crime, a crueldade e a maldade, a fugir da traição, da mentira e da desonestidade, a dar o perdão aos que o pedem e, acima de tudo, a respeitar e a proteger as mulheres. De Camelot, os cavaleiros partem a combater dragões, gigantes e anões astuciosos; os seus encontros com as "forças do mal" ocorrem habitualmente em castelos assombrados, florestas obscuras e jardins encantados. Orgulhos de seus feitos, regressam então ao castelo para contar na corte as suas histórias.


Távola Redonda do rei Artur (Arquivo da Biblioteca Pública de Nova Oorque): a Távola Redonda prevenia as disputas sobre a precedência, sombolizava a completude e representava a Mesa da Última Ceia, com o Graal ao centro.

A Távola Redonda poderá estar relacionada com José de Arimateia, principalmente porque tinha um sítio especial reservado ao Graal. José de Arimateia ter-se-ia alimentado do Graal, enquanto esteve preso na Palestina. Mais tarde, trouxe-o para a Grã-Bretanha onde desapareceu devido à vida pecaminosa dos seus habitantes. Assim, a recuperação do Graal tornou-se uma grande demanda para os cavaleiros de Artur.

A rainha Guinevere e Lancelot acabaram por se tornar amantes e quando Artur descobriu a infidelidade da mulher, Lancelot teve de fugir para a Bretanha. Artur perseguiu Sir Lancelot e cercou-o na sua praça-forte bretã. Contudo teve de levantar o cerco ao receber a notícia de que o seu sobrinho (noutras versões, seu filho) Sir Mordred se apoderara de Camelot e forçara inclusive Guinevere a aceitar casar-se com ele, após ter espalhado rumores de que o rei morrera em campanha. Regressado à Inglaterra, o rei convocou os seus cavaleiros para combaterem os rebeldes. Antes do conflito, o rei e o seu sobrinho acordaram que nunca haviam de reunir os seus exércitos para discutirem a possibilidade da paz. Por não confiarem um no outro, cada um deles ordenara às suas forças que atacassem se vissem quem quer que fosse sacar de uma espada. Quando um cavaleiro desembainhou a sua arma para matar uma serpente, disputou-se uma terrível batalha onde sucumbiu a flor da cavalaria britânica.

Apenas dois dos cavaleiros de Artur sobreviveram num campo de batalha coberto de mortos e moribundos. Embora vitorioso, o rei Artur teve de ser transportado em braços por estes dois cavaleiros, tal a gravidade dos seus ferimentos. Reconhecendo a morte próxima mandou atirarem Excalibur a um lago, onde logo emergiu uma mão para a apanhar. Depois, Artur fez-se ao mar num barco mágico e desapareceu. As suas palavras foram que rumaria a Avalon para curar as suas feridas e que um dia haveria de regressar para de novo liderar o seu povo.


Aubrey Beardsley, How Sir Bedivere Cast the Sword Excalibur into the Water, 1894

A inscrição no túmulo de Artur em Glastonbury recupera esta noção celta da reencarnação: “Aqui jaz Artur, foi rei, rei será”. O facto de não ter chegado a morrer, porém, não bastou para salvar o seu reino debilitado dos ataques anglo-saxões. Todo o mito arturiano se desenrola em torno da desagregação da unidade dos cavaleiros estabelecida em torno da Távola Redonda, finalmente destruída pelo ódio implacável entre Artur e Mordred.


James Archer, The Sancgreall, King Arthur healed of his grievous wound, 1863
A aparição alada segurando o Graal simboliza a esperança e promessa futura do reino de Artur.


Referências bibliográficas:

COTTERELL, Arthur, Enciclopédia de Mitologia, Central Livros LDA, 1998
BELLINGHAM, David, Mitologia Céltica, Editorial Estampa, 1999


Para um estudo mais detalhado ver aqui

Ou aqui

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A Ilha Sagrada



Avalon (provavelmente do celta abal: maçã) é uma ilha lendária, associada a diversas histórias sobre o Rei Artur - o local onde Excalibur foi forjada e para onde o próprio rei voltou depois da sua última batalha, para ser curado de um ferimento mortal. A ilha sagrada é regida por Morgana, sacerdotisa guardiã do caldeirão do renascimento (símbolo da Deusa Mãe) e a responsável pela cura de Artur.

Sendo um lugar misterioso e sobrenatural, Avalon é a ilha onde Artur permanece vivo, através de artes mágicas, esperando a hora do regresso.

É a Terra da Promessa, espécie de paraíso celta, às vezes chamado Emain Ablach, nome no qual se encontra o termo que designa as macieiras. Geoffrey de Monmouth chama-a de Insulis Avallonis (Galês: Ynys Avallach), que pode ser traduzida por Ilha das Maçãs – representando a maçã a imortalidade, o conhecimento e a magia. A ilha é ainda associada às míticas Ilhas Afortunadas.

Avalon, a ilha das maçãs... é a terra dos Deuses, um reino perfeito, de eterna beleza, amor e felicidade, onde a música, a dança, a vida e todo o deleite se reúnem. Associada ao Outro Mundo,ou Annwn, é também conhecida como a Terra da Eterna Juventude, Caer Siddi (Fortaleza das Fadas)ou a Ilha das Mulheres onde apenas o povo das fadas e os de alma pura podem entrar.

É uma Ilha Afortunada pois suas colheitas são fartas e abundantes. Nela existe uma fonte que jorra vinho doce sendo o envelhecimento e a doença desconhecidos. Entre os seus tesouros há um caldeirão mágico, responsável pela abundância existente.

Onde está Avalon?

A ilha sagrada de Avalon não existe nas dimensões de tempo e espaço conhecidos por nós. Ao longo dos séculos, muitos tentaram localizá-la no País de Gales, na Irlanda, na Cornualha ou na Bretanha.



A cidade de Glastonbury, em Somerset, na Inglaterra, é particularmente associada a Avalon. O seu nome antigo era Ynnis-Witrin: a Ilha de Cristal, pois os celtas chamavam esta área de "Ynnisvitrin", a Ilha do Vaso, a Ilha Brilhante, com base na cor do rio e na velha palavra britânica. O nome Avalon é originário da época do rei Avallach ou Avalloc. Para os etimologistas do século XII, estava claro que Glastonbury era um nome inglês e que, se a sua fundação era anterior à conquista saxônica, devia ter tido um antigo nome britânico. Os saxões chamaram Glastonbury de Ilha de Vidro e os galeses optaram por chamar Avalon de "Ynnis Afallach".

Quando, em 1191, os monges de Glastonbury encontraram a suposta sepultura de Artur, no cimo de um pequeno monte, que dantes se encontrava circundado de água, disseram ser este o local da mítica ilha de Avalon. A inscrição no túmulo dizia:

"Aqui jaz, enterrado na Ilha de Avalon, o conhecido Rei Artur".

O mosteiro de Glastonbury tem a tradição de ter sido fundado por José de Arimatéia, que teria trazido o Santo Graal para as Ilhas Britânicas e por isso é um lugar ligado à demanda do Graal.

Outros mitos e lendas locais relacionam a colina de Tor com a entrada para Annwn, lar de Gwynn ap Nud, o rei das fadas e guardião do submundo. Inclusive a bruma que costuma cobrir a região e à qual os habitantes locais chamam de "A Dama Branca", evoca a névoa da mística de Avalon.



Este local enigmático com 176 metros de altura e uma colina de pedras no seu topo, possui grandes forças telúricas, semelhantes às de Stonehenge e Avebury, formando um triângulo, símbolo do fogo, elemento de transmutação e renovação espiritual. Exactamente neste local houve a construção de duas igrejas, a primeira foi destruída por incêndios e da segunda existe apenas a torre.

Descendo a colina, chega-se a "Chalice Well Gardens", os Jardins do Cálice Sagrado, fonte de água avermelhada com propriedades curativas, reforçando o mito do Santo Graal. Avalon, Camelot, os Cavaleiros da Távola Redonda e a busca do Santo Graal são assim associados ao Caldeirão do Renascimento, existindo uma linha muito ténue, onde dois mundos tão distintos se encontram.



O folclore local também está repleto de referências a civilizações perdidas, como o povo da Atlântida e suas ilhas submersas de Caer Ys e Lyonesse, um mundo subterrâneo, supostamente os ancestrais de Avalon. E, segundo as lendas arturianas, é a terra natal de Tristão e o local da batalha final entre Artur e Mordred.

O Apelo de Avalon



Avalon é o despertar natural da consciência, o templo do mundo interior, terra da eterna magia e saber que oferece iniciação e esclarecimento a todos os que ingressam nessa jornada.

Invisíveis aos olhos descrentes, as brumas revelam seus mistérios apenas aos que servem o princípio maior, junto aos Deuses. E, somente, aqueles que compreendem que a vida é infinita em suas possibilidades poderão abrir as portas deste mundo. O medo, como sempre, é o grande desafio daqueles que estão na travessia deste portal, prestes a desvendar os segredos do Outro Mundo.

Avalon chama-nos ao seu sagrado caminho, mas somente nós é que poderemos tecer o fio desse destino.Através da sensibilidade e da intuição começamos a discernir aquilo que é melhor e o que realmente faz a nossa alma feliz.

Avalon simboliza a busca constante do ser humano que, apesar das desilusões, ainda tem a esperança de fazer deste mundo uma lenda real, ou seja, encontrar a fonte inesgotável da sabedoria da tríplice divina... O reencontro dos Deuses dentro do nosso templo sagrado. Awen!



Referências bibliográficas dos últimos três artigos:

GIDLOW, Christopher - O Reinado de Artur - da História à Lenda - Ed. Madras, 2004.
MATTHEWS, Caitlín - O Livro Celta dos Mortos - Ed. Madras, 2003
MARKALE, Jean - A Grande Epopéia dos Celtas - Ed. Ésquilo, 1994.

Ilhas Afortunadas



Ilhas Afortunadas ( μακάρων νη̂σοι makárôn nêsoi), de acordo com as mitologias grega e céltica, era o nome dado ao paraíso onde se situavam, segundo o poeta grego Hesíodo, os Campos Elísios - uma região abençoada onde os heróis e as almas virtuosas eram recebidos pelos seus deuses após a morte. Acreditava-se que estas ilhas estavam no Oceano Ocidental perto do cerco do rio Oceanus; a Madeira, os Açores, as Canárias, e Cabo Verde são apontadas como possíveis localizações das Ilhas Afortunadas.
Na alta Idade Média europeia as Ilhas Afortunadas ficaram ligadas à lenda das viagens de São Brandão, o monge irlandês que as teria visitado e nelas teria encontrado o jardim do Éden. Através desta lenda, as Ilhas Afortunadas ficaram associadas ao fundo mais abrangente das ilhas míticas do Atlântico (Sete Cidades, Antília e ilha do Brasil, entre outras).

(in Wikipedia)

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