terça-feira, 30 de novembro de 2010

Amor


My Brightest Diamond - Hymne à l'amour

sábado, 27 de novembro de 2010

História de Gareth e Lyonors



Gareth de Orkney era o irmão mais novo de Gawain, Agravain e Gaheris. Quando chegou a Camelot, manteve secreta a sua identidade, no intuito de provar o seu valor através de mérito próprio ao invés do seu parentesco com o renomado Gawain. Durante esse tempo, chamavam-no de Beaumains, devido às suas mãos alvas. Como Beaumains, trabalhou pacientemente nas cozinhas do castelo, à espera de uma oportunidade de se afirmar.

Um dia, essa oportunidade chegou na pessoa de Lyonors. Esta donzela era refém do Cavaleiro Vermelho há dois anos e quando testemunhou a luta renhida entre o seu captor e o jovem cavaleiro, apaixonou-se irremediavelmente por este. Gareth, também animado pelo amor que sentia pela donzela, conseguiu derrotar o seu adversário.

Mais tarde, no castelo de Gringamore, irmão de Lyonors, durante as celebrações do resgate da jovem, os dois enamorados juraram amor  eterno. Incendiados de paixão, combinaram encontrar-se mais tarde, durante a noite, após as festividades.

A feiticeira Linete, irmã de Lyonors, embora aprovasse o seu amor, não tencionava permitir que os dois jovens consumassem a sua união antes do casamento. Assim, enquanto Lyonors se encaminhava para a cama de Gareth, sua irmã esconjurou um cavaleiro fantasma e enviou-o aos aposentos de Gareth para atacá-lo. A luta foi feroz; Gareth decapitou o cavaleiro mas ficou gravemente ferido na coxa.

Gringamore, desperto pelos gritos de Lyonors, correu para ajudar e Linete também se juntou ao grupo. Calmamente, a feiticeira dirigiu-se ao seu cavaleiro, ungiu-lhe o pescoço e colocou-lhe novamente a cabeça no lugar. Depois, admoestou os amantes a refrearem os seus desejos até ao dia do casamento.

Dez dias passaram e, apesar do ferimento de Gareth, a paixão dos dois jovens levou-os a urdir um plano para um segundo encontro. No entanto, mal Lyonors entrou na cama de Gareth, surgiu o cavaleiro fantasmagórico. Gareth novamente decapitou o fantasma mas a sua ferida reabriu e perdeu muito sangue. Mesmo assim, teve o cuidado de, desta vez, cortar a cabeça do oponente em mil pedaços e atirá-los pela janela.

Contudo, a diligente Linete apanhou-os a todos e recompôs o seu cavaleiro, enviando-o novamente para cumprir o seu dever. Gareth, bastante enfraquecido, teve de desistir dos seus ímpetos amorosos. Linete disse ao cavaleiro que só no tempo devido, restaurar-lhe-ia a saúde e o vigor de mancebo.

Finalmente, chegou o dia em que os dois apaixonados - honra intacta - se casaram e se viram livres do pau de cabeleira fantasma.

Descobrir o Tarot com as Lendas Arturianas: Os Amantes

Anna-Maria Ferguson, The Arthurian Tarot

Gareth e Lyone caminham sós no bosque, longe dos olhares e dos mexericos da corte. Efectuaram uma escolha entre o que desejavam e o que a sociedade considerava aceitável. Caminham juntos, mas sem se agarrarem um ao outro. O seu amor é seguro, de parceiros que escolhem a companhia um do outro, de livre vontade.

Uma brisa suave agita as folhas das árvores, reflectindo a natureza delicada do amor e da afeição que Gareth e Lyone nutrem um pelo outro. As borboletas simbolizam a beleza e o êxtase deste estado de sonho.

A espada é um aviso de que existem perigos no meio desta beleza. O amor eleva mas também pode devastar. A espada indica então o risco que se toma numa relação amorosa e a necessidade de se manter a autonomia individual.

O amor de Gareth e Lyone é verdadeiro, assente em bases sólidas e os solidagos simbolizam a sua união.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Conto em verso da princesa roubada

Não sei outra história
senão a que sei:
Os ladrões levaram
a filha do Rei.

- Sela o teu cavalo,
que hoje há montaria.
- Roubaram-me a filha,
não tenho alegria.

A ricos e pobres
faz El-Rei saber:
- Casará com ela
o que ma trouxer.

- Mas se for um monstro
feio e cabeludo?
Mas se for um cego?
Mas se for um mudo?

- Ao melhor serviço
cabe a melhor paga:
Será o meu genro
quem quer que ma traga.

Oh que lindo moço
deu com a donzela!
Como vem contente
pelo braço dela!

Nunca o Paço viu
par tão delicado:
Rosa de jardim
com seu cravo ao lado.

Que feliz o Rei,
que já tem a filha,
que já tem um genro
que é uma maravilha!

Como lhe sorri
lhe agradece tudo!...

- Mas se fosse um monstro?

Mas se fosse um mudo?

Sebastião da Gama
















Rusty Knight, de Arthur Hughes

domingo, 21 de novembro de 2010

Descobrir o Tarot com as Lendas Arturianas: O Hierofante

The Arthurian Tarot - Anna-Marie Ferguson

Taliesin encanta as crianças com a sua música. Também Orfeu, através da sua música encantatória, foi e voltou do submundo. A música é uma passagem para outros mundos e assim, nesta carta, temos a harpa a substituir as tradicionais chaves na mão do Hierofante.

O bardo Taliesin trata de igual modo as crianças privilegiadas e as mais pobres, encorajando-as nos seus talentos criativos e artísticos e transmitindo-lhes o saber tradicional. As histórias do passado despertam as imaginações infantis e asseguram a ligação ao Outro Mundo. Esta é a função de Taliesin como guardião do saber ancestral.

As penas no seu cabelo e o colar atestam as suas capacidades metamórficas. O bardo encarna todo o conhecimento das suas vidas animais. O ribeiro e as figuras de pedra dos velhos deuses reflectem a sua ligação aos mistérios do Outro Mundo. Não esqueçamos que foi através do Caldeirão de Ceridwen que Taliesin adquiriu a sua inspiração e o seu profundo conhecimento. As jóias que ostenta representam o reconhecimento que lhe é prestado. O seu poder não pode ser subestimado. Com as suas palavras, Taliesin pode enaltecer um rei e elevá-lo à glória ou pode destruí-lo usando de sátira implacável. 

sábado, 20 de novembro de 2010

Outro Mundo


Antony and the Johnsons - Another World

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Caçador

John Strudwick, Acrasia





















O caçador foi à caça,
À caça, como soía
Os cães já leva cansados,
O falcão perdido havia.
Andando se lhe fez noite
Por uma mata sombria,
Arrimou-se a uma azinheira,
A mais alta que ali via.
Foi a levantar os olhos,
Viu coisa de maravilha:
No mais alto da ramada
Uma donzela tão linda!
Dos cabelos da cabeça
A mesma árvore vestia,
Da luz dos olhos tão viva
Todo o bosque se alumia.
Ali falou a donzela,
Já vereis o que dizia:
– «Não te assustes, cavaleiro,
Não tenhas tamanha frima.
Sou filha de um rei c’roado,
De uma bendita rainha.
Sete fadas me fadaram
Nos braços de mi’madrinha,
Que estivesse aqui sete anos,
Sete anos e mais um dia;
Hoje se acabam nos anos,
Amanhã se conta o dia;
Leva-me, por Deus to peço,
Leva em tua companhia.»
– «Espera-me aqui, donzela,
Té amanhã, que é o dia;
Que eu vou tomar conselho,
Conselho com minha tia.»
Responde agora a donzela,
– «Oh, mal haja o cavaleiro,
Que não teve cortesia:
Deixa a menina no souto
Sem lhe fazer companhia!»

Ela ficou no seu ramo,
Ele foi-se a ter coa tia...
Já voltava o cavaleiro
Apenas que rompe o dia,
Corre por toda essa mata,
A enzina não descobria.
Vai correndo e vai chamando
Donzela não respondia:
Deitou os olhos ao longe,
Viu tanta cavalaria,
De senhores e fidalgos
Muito grande tropelia.
Levavam-na linda infanta,
Que era já contado o dia.
O triste do cavaleiro
Por morto no chão caía;
Mas já tornava aos sentidos
E a mão à espada metia:
– «Oh, quem perdeu o que eu perco
Grande penar merecia!
Justiça faço em mim mesmo
E aqui me acabo coa vida.»

Romanceiro, Almeida Garrett

domingo, 14 de novembro de 2010

A lenda de Taliesin

Taliesin (c.534 – c.599) é o poeta mais antigo da língua galesa cujo trabalho sobrevive. O seu nome é associado ao Livro de Taliesin, um livro de poemas escrito na Idade Média, por volta do século XIII. A maioria dos poemas pertence aos séculos X e XII, mas alguns são mais antigos, sendo apontada a sua origem ao século VI.
Acredita-se que Taliesin foi um bardo que cantava nas cortes de pelo menos três reis celtas britânicos da era.

Taliesin - Stuart Litllejohn

A Lenda
Taliesin ("Fronte Resplandecente") era um mago e bardo que, segundo a mitologia galesa, foi o primeiro indivíduo a obter o dom da profecia. Numa versão da história, era lacaio da bruxa Ceridwen e chamava-se Gwion Bach. Ceridwen preparou uma poção mágica que, depois de um ano de fervura, deveria derramar três gotas de sabedoria. Quem quer que engolisse tais gotas preciosas ficaria a saber todos os segredos do passado, presente e futuro.

Enquanto Gwion Bach cuidava do fogo sob o caldeirão, parte do líquido fervente caiu-lhe no dedo, que ele chupou para aliviar a dor. Furiosa, Ceridwen empregou todas as suas artes mágicas na perseguição do rapaz, que se transformou numa lebre, num peixe e num pássaro, antes de ser comido pela bruxa, que se tinha transformado entretanto numa galinha, sob a forma de um grão de trigo.

Quando Ceridwen retornou à sua forma humana, estava agora grávida. Ao dar à luz, não conseguiu matar a criança e abandonou-a no mar. Gwion Bach foi pescado numa rede, por Elphin, sobrinho do rei Maelgwn, e recebeu o novo nome de Taliesin por causa da sua testa radiante - símbolo da sua visão omnisciente.

"Sou velho, sou novo", disse ele. "Estive morto, estive vivo".


sábado, 13 de novembro de 2010

"Yo m' enamori d' un aire"

Vasily Alexandrovitch Kotarbinsky (1849-1921)

O Anjo e a Princesa


Oh que choros vão no paço
Oh que lutos, que tristeza!
Morre, morre a cada instante
A nossa linda princesa.


Os físicos não se entendem,
Vão-se uns e outros vêm;
Mas o mal que ela padece
Não lho descobre ninguém.


Nos olhos que se lhe enturvam,
Já treme a luz derradeira.
Reza o ofício da agonia
Negro monge à cabeceira.


Se inda chegará a tempo
Dessas guerras dalém-mar
O bom do rei que inda possa
A sua filha abraçar!


A filha que ele ama tanto,
Única filha querida,
A menina dos seus olhos,
Bordão da cansada vida!


Pois chegou. Tanto cativo,
Tanto despojo que traz!...
Com vitórias o enganava
Fortuna, que acinte o faz.


Pelas porta do palácio
O real cortejo entrava,
Olha o rei a um lado e outro,
Nem uma voz o aclamava...


Pela filha, que não via,
Não se atreve a perguntar,
Mas ao quarto da princesa
Foi direto sem parar:


- Minha filha, minha filha !
Que tens tu, filha querida?
E ela abria os olhos turvos
Que já não têm quase vida...


«A metade do meu reino,
Da minha c’roa real,
A quem salvar a princesa,
Quem acertar c’o este mal.»


A estas palavras do pai
Meneia a pálida fronte,
Com quem diz: «Não o entendem,
Nem cura o meu mal consente.»


- «São pesares... não se sabe...»
Responde o físico-mor,
Outro mal lhe não descubro...
Só se for o mal d’amor.»


Um rubor desfalecido
Assomou na face lenta
Que já do suor da morte
Se cobria macilenta.


Os olhos que no pai tinha
Cravados desde que o viu,
Com mostras de pejo e medo
Para a terra os descaiu.


- «Não tenhas, filha, receio,
Levanta os olhos, querida;
Seja quem for, será teu:
Jurei-o por tua vida,


Seja ele ou rico ou pobre,
Seja fidalgo ou peão,
Desde já por genro o tomo,
E aqui lhe dou tua mão.»


Como quem o ultimo esforço
De doce mágoa fazia,
Com inefável brandura
Os olhos ao pai erguia;


Suave longo suspiro
Dentre os lábios lhe fugiu...
Era a vida que passava,
Que sem dor se despediu.


Foram para a amortalhar,
No peito um sinal lhe achavam
De letras que ninguém leu,
Que estranhas formas tomavam.


Sete sábios são chamados
Para haver de as decifrar:
Cada um sete línguas sabe,
Não nas podem soletrar.


Só o mais velhos dos sete,
Que andara na Palestina,
Disse: - «Outras letras como estas
Eu já vi numa ruína,


«Junto dos cedros do Líbano,
Já no meio entre a terra e o céus,
Do tempo que às filhas do homem
Falavam anjos de Deus.


«Mas lê-las não sei nem posso:
Nem que soubesse, o fizera:
Segredos são de outro mundo
Que, neste, Deus não tolera.»


No alto daquele monte
Um alto cedro nasceu;
Ou anjos o semearam,
Ou foram aves do céu.


Que ali cresceu de repente,
De uma noite para um dia;
E outro igual em todo o reino
Como aquele não havia;


Foi à noite que a princesa
Ali veio a sepultar;
Era um sítio seu querido
Donde soia de estar,


Aonde horas esquecidas,
Sòzinha, de quando em quando,
Com as estrelas do céu
Parecia estar falando;


E onde, uma noite sem lua
Que as estrelas mais brilhavam,
Houve quem visse nos ares
Umas roupas que alvejavam,


E descer a pouco e pouco,
E ao pé da infanta parar
Um vulto... visão... ou sombra...
Mas sombra de luz sem par:


E foi desde aquela noite
Que a não viu mais rir ninguém.
Anjo era o que lhe falava...
Mas se Deus... ou de quem?...

Romanceiro, Almeida Garrett

Arianna Savall: Yo m'enamori d'un aire

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Descobrir o Tarot com as Lendas Arturianas: O Imperador

The Arthurian Tarot - Anna-Marie Ferguson
(clique na imagem para ampliar)

Um Artur confiante está sentado no lugar de poder. Está à vontade e consciente do que o rodeia e do seu papel crucial. Artur segura o ceptro com o globo, confirmação da sua soberania. O ceptro simboliza a sua potência e o globo a sua fama e os princípios femininos. A linguagem corporal de Artur é descontraída, tornando-o acessível. Ele é verdadeiramente competente para governar; o seu poder não assenta na pompa e cerimónia. Esta capacidade é-lhe intrínseca, é uma verdade e uma força que pairam no ar à sua volta.

A luz do archote recai sobre Artur, indicando que ele é um líder iluminado, esclarecido. O seu manto denota riqueza e segurança. O vermelho, associado ao escudo, representa a coragem e a prontidão em defender o seu reino. A águia simboliza a alma e a capacidade de se elevar acima das questões, ver ambos os lados, e fazer um julgamento justo. A cabeça do bode (no manto, a negro) significa a paixão e a ambição. Os dragões talhados no trono simbolizam o poder primordial.

Artur é Pendragon (cabeça do dragão) que celebra um casamento sagrado com a terra. Artur é amado pelo seu povo mas também é invejado - a porta aberta indica que há aqueles que, se dada a oportunidade, tomariam a sua coroa. O Imperador precisa de estar a par de tudo o que se passa na corte e de tudo aquilo que é feito em seu nome.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Descobrir o Tarot com as Lendas Arturianas: A Imperatriz

The Arthurian Tarot - Anna-Marie Ferguson
(clique na imagem para ampliar)

O trono assoma sobre Guinevere, representando a enorme responsabilidade da Imperatriz. Apesar da sua juventude, Guinevere exibe uma postura própria da realeza e está à altura do que lhe é exigido. Com flores no cabelo e um vestido verde, ela é a Rainha de Maio, ou seja, a renovação e a fertilidade. As flores de macieira simbolizam a Deusa e o seu processo de regeneração. As cores castanha e verde do trono e do vestido, respectivamente, correspondem à terra e à vegetação, aludindo assim à imagem nutridora da Mãe Natureza. 

Como Rainha de Maio, Guinevere é responsável pelo bem estar do seu povo e da terra; um cargo que exige maturidade, sabedoria e, se necessário, auto-sacrifício. O manto roxo assinala realeza, liderança e privilégio. A águia simboliza a força obtida através da iluminação do espírito - ela tem a habilidade de superar as situações tomando acções definitivas. A harpa denota atracção pela Beleza. 

Ao contrário da Sacerdotisa, que está sentada no exterior, a Imperatriz senta-se num grande salão: o seu reino é mundano e ela é a contraparte feminina do Imperador.  
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