segunda-feira, 21 de março de 2011

Ostara



Ostara é o Sabbat do equilíbrio. O dia e a noite são iguais quando a Primavera começa. A natureza encontra-se mais activa, criadora e regeneradora, provocando o crescimento das plantas. e o aumento do nascimento dos animais. É a época em que se celebra a vitória da vida sobre a morte.

A deusa desta festa é Ostara (ou Eostre), uma deusa germânica da Lua e da aurora que deu origem ao nome da Páscoa em inglês - Easter. Os símbolos da deusa Eostre são o coelho, simultaneamente o símbolo da fertilidade e da Lua (os antigos viam a sombra de uma lebre nas manchas da Lua Cheia) e o ovo - o ovo cósmico da criação, posto pela serpente regeneradora, símbolos da vida que emerge de uma morte aparente; o ovo assemelha-se a um seixo e a serpente auto-regenera-se sempre que muda de pele. A deusa Eostre anuncia o retorno triunfal da vida à terra.

A tradição grega celebra o retorno de Perséfone do Hades, para passar os próximos seis meses na companhia de Deméter, sua mãe, a deusa das colheitas.

Ostara é celebrada como a data em que o Deus e a Deusa geram a criança (o Deus Sol) que vai nascer no Solstício de Inverno, nove meses mais tarde. Na Igreja Católica, o dia 25 de Março é o da Anunciação, o dia em que o anjo Gabriel comunica a Maria que ela está grávida. Como as tradições pagãs foram desenvolvidas por povos diferentes, a concepção do Deus Sol também é festejada tanto em Beltane como no Solstício de Verão, dependendo das regiões.


A Páscoa é outro dia santo relacionado com a festa da Ostara. Pode ser vista como a vitória do deus Sol (Jesus) sobre a escuridão (a morte).  Nas antigas religiões pagãs, as lendas contavam que nessa altura do ano a Deusa descia ao mundo subterrâneo, regressando ao fim de três dias, coincidindo com a posterior história de Jesus, ressuscitado ao fim de três dias no reino dos mortos. A duração dos três dias explica-se através da identificação da Deusa com as fases da Lua. Com efeito, a Lua nova não acontece apenas numa noite: desaparece na noite anterior e só volta a surgir na noite a seguir, ou seja, está invisível durante três noites.

Nestas celebrações plantam-se as sementes que foram consagradas no Imbolc. Os pagãos costumavam pintar ovos vazios, passá-los rapidamente por fogueiras rituais e pendurá-los por cima da cama ou nos seus celeiros, como símbolo de fertilidade. Apanhar a primeira violeta que se vê no dia do equinócio traz boa sorte.

segunda-feira, 14 de março de 2011

O Canto da Sibila


El Cant de la Sibil·la - 2010 - Carmen Jaime

quarta-feira, 9 de março de 2011

O Caldeirão de Annwn



Annwn era o Outro Mundo dos galeses, uma terra idílica de paz e abundância, animada com o canto dos pássaros. Em Annwn havia uma fonte de vinho doce e um caldeirão mágico. Este caldeirão,  guardado por nove donzelas, curava os doentes e devolvia os mortos à vida. O soberano de Annwn era Arawn das vestes cinzentas. Arawn tinha uma matilha de cães de fila, "os cães do inferno" celtas que voavam durante a noite perseguindo as almas humanas.

Segundo a tradição galesa, o jovem e impetuoso Artur perdeu a maioria dos seus guerreiros numa tentativa defraudada para roubar o caldeirão mágico.  Esta demanda é contada num poema - "The Spoils of Annwfn"- sendo considerado por muitos como um modelo para a história da Demanda do Santo Graal.

O bardo Taliesin acompanhava relutantemente Artur e os seus guerreiros pois estava bem ciente dos perigos de entrar sem permissão no Outro Mundo. E, apesar dos seus avisos, o jovem rei prosseguiu na sua louca aventura.

Antes de chegarem ao Castelo do Caldeirão, os homens passaram sete fortalezas envoltas numa luz misteriosa e crepuscular. Eram aguardados pelos Sempre Jovens. Não se sabe ao certo o que aconteceu. Os eventos exactos são misteriosos como a terra onde estavam. Só se sabe que foi uma batalha terrível e que seria a primeira e última vez que Artur combateria o povo de Fay.

Artur conseguiu chegar junto do caldeirão mas foi capturado e atirado para a prisão dos Estranhos Muito Estranhos. Era uma prisão feita de ossos dos mortais e onde outros três humanos de sangue real pereciam eternamente por terem ofendido os Fay. Artur ali esteve três dias e três noites, em grande agonia, até ser salvo por Bedivere e Llwch Lleminawc. Muito combalido, Artur não falou durante um dia e uma noite e depois só chorava.

Apesar de terem sucedido no roubo do caldeirão, dificilmente se sentiam vitoriosos pois dos três navios que tinham partido, só sete homens regressaram. O rei acabou por recuperar o juízo mas proibiu terminantemente que se falasse do ataque a Annwn. 

terça-feira, 8 de março de 2011

Descobrir o Tarot com as Lendas Arturianas: A Temperança


The Arthurian Tarot, Anna Marie Ferguson

Nove sacerdotisas guardam o Caldeirão de Annwn, fonte de inspiração poética e de poderes mântricos.  A nascente mágica, o caldeirão e a cabeça representam os poderes da profecia, da inspiração e da arte. Os bardos de Artur atribuíam os seus talentos ao Caldeirão de Annwn, que originalmente pensava-se ser uma cabeça.
Uma sacerdotisa segura um archote - o seu fogo representando a mente consciente. Outra sacerdotisa verte água, simbolizando o inconsciente e o génio da inspiração. Era costume misturar vinho com água, para alcançar a moderação, o equilíbrio entre os planos físico e espiritual. A sacerdotisa tem uma perna na água e a outra na pedra. Ela faz a ligação entre os mundos, capaz de manifestar conhecimentos psíquicos nesta dimensão.
A irmandade das nove sacerdotisas reúne energias e forma uma união de forças onde prevalecem os valores da diplomacia, da compatibilidade e da acomodação.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Conta a lenda que dormia

John Duncan, Sleeping Princess, 1915

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino -
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
A cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa
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