sábado, 29 de janeiro de 2011

A Senhora do Lago

Oráculo de Avalon

O rei Pellinore tinha acampado numa floresta, não longe da corte de Artur. Todo o  cavaleiro que por lá passasse era desafiado e vencido por Pellinore. Artur, já agastado com o sucedido, partiu, numa madrugada, ao encontro do seu adversário.

Foi um duro combate. Pelinore, um guerreiro feroz, podia facilmente acabar com a vida do jovem Artur, pelo que Merlim, que tudo observava, escondido nas ramagens, lançou um feitiço a Pellinore, fazendo-o cair num sono pesado. Artur jazia inconsciente e a espada, que ele tinha retirado da pedra encantada, estava desfeita em pedaços.

Depois de ter recuperado deste combate, Artur, por iniciativa de Merlim, partiu em viagem. Cavalgaram durante muitos dias até chegarem a um estranho e maravilhoso país dos Lagos. A magia do lugar pairava sobre eles e o vento sussurrava: " aproxima-se a vinda de Artur". Sentiam-se escoltados por presenças inefáveis. Ao chegarem ao mais sereno dos lagos, uma leve música elevou-se nas brumas.

"No lago está uma rocha e dentro dessa rocha está um magnífico palácio, a casa da Senhora do Lago. Fala-lhe honestamente", Merlim avisou, "e ela oferecer-te-á uma espada  e a sua bainha. A espada é como nenhuma outra, forjada no Outro Mundo, é eterna. A bainha foi tecida com magia; enquanto a usares, jamais serás ferido mortalmente."

Com estas palavras, levantaram-se as brumas e das águas surgiu a Senhora do Lago. "Artur, em ti reside a promessa de paz na terra. Por esta razão, dou-te a minha espada. Excalibur inspirará outros a seguirem-te e a bainha proteger-te-á do perigo. Esta é a minha dádiva à tua causa. Toma esta oferta, honra-a e recebe a minha benção."

Com Excalibur nas mãos do rei, as águas revolveram-se e a Senhora do Lago apartou-se dos olhares dos homens e regressou aos seus domínios.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Dom Duardos


Elizabeth Frampton, Fairyland

Era pelo mês de Abril,
De Maio antes um dia,
Quando lírios e rosas
Mostram mais sua alegria;
Era a noite mais serena
Que fazer no céu podia,
Quando a formosa infanta,
Flérida já se partia;
E na horta de seu padre
Entre as árvores dizia:
- Com Deus vos ficai, flores,
Que éreis a minha alegria!
Vou-me a terras estrangeiras
Pois lá ventura me guia;
E se meu pai me buscar,
Pai que tanto me queria,
Digam-lhe, que amor me leva,
Que eu por vontade não ia;
Mas tanto teimou comigo
Que me venceu com porfia.
Triste, não sei onde vou,
E ninguém não mo dizia!...
Ali fala Dom Duardos:
- Não choreis, minha alegria,
Que nos reinos de Inglaterra
Mais claras águas havia,
E mais formosos jardins,
E flores de mais valia.
Tereis trezentas donzelas
De alta genealogia;
De prata são os palácios
Para Vossa Senhoria;
De esmeraldas e jacintos
E oiro fino de Turquia,
Com letreiros esmaltados,
Que a minha vida se lia,
Contando das vivas dores
Que me destes nesse dia
Quando com Primalião
Fortemente combatia:
Matastes-me vós, senhora,
Que eu a ele o não temia...
Suas lágrimas enxugava
Flérida que isto ouvia.
Já se foram as galeras
Que Dom Duardos havia.
Cinquenta eram por conta,
Todas vão em companhia.
Ao som do doce remar
A princesa adormecia
Nos braços de Dom Duardos,
Que tão bem a merecia:

Saibam quantos são nascidos
Sentença que não varia:
Contra a morte e contra amor
Que ninguém não tem valia.

Almeida Garrett, Romanceiro

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Canção de Galadriel

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Desafio dos Sete


O que a minha amiga arKana me foi arranjar!
Um desafio com o número sete; o meu número mágico!

7 coisas que tenho de fazer antes de morrer:
- ler as centenas de livros que já adquiri;
- aprender a viver o presente sem me preocupar com o dia de amanhã;
- ir a Stonehenge;
- perder o medo de que não gostem de mim;
- tirar um curso de pintura;
- escrever um romance;
- experimentar bungee jumping.

7 coisas que mais digo:
- G. come!
- Fogo!
- Merda!
- Calem-se e passem o sumário!
- Amo-te...
- Então pá?!
- Pois...

7 coisas que faço bem:
- ouvir os outros;
- o meu trabalho;
- mousse de chocolate;
- dar miminhos;
- conciliar opostos;
- criar empatia com os meus alunos;
- reflectir antes de agir.

7 defeitos:
- insegura;
- desconfiada;
- pessimista;
- introvertida;
- preguiçosa;
- impaciente;
- tímida.

7 qualidades:
- leal;
- compreensiva;
- tolerante;
- justa;
- generosa;
- humilde;
- meiga.

7 coisas que adoro:
- queijo;
- música;
- ler;
- fazer amor;
- rir e disparatar com os amigos;
- cinema;
- blogar.

7 coisas que detesto:
- levantar-me cedo no Inverno;
- arrogância;
- injustiça;
- pedantismo;
- feijão frade;
- engarrafamentos;
- reality shows.

No lugar de seleccionar sete pessoas para responder a este desafio, deixo-o aqui a todos os que lêem este blogue e que assim o desejem fazer.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Descobrir o Tarot com as Lendas Arturianas: A Justiça

Anna-Marie Ferguson, The Arthurian Tarot

A Senhora do Lago aparece diante de Artur, representando a Lei Cósmica. Ela lembra-lhe que há um poder mais alto do que a justiça do rei. Pelos seus feitos, a Senhora do Lago considera Artur digno do seu selo e presenteia-o com Excalibur e a respectiva bainha.

A sua figura assemelha-se à balança da justiça; ela pesa as virtudes da espada e da bainha. As acções determinadas e decisivas da espada estão em equilíbrio com a piedade e protecção da bainha. Isto representa uma pessoa equilibrada em quem se pode confiar para levar cabo tarefas de uma maneira responsável e honrosa.

A aparição da Senhora do Lago significa o Destino e o Karma em acção; daí esta carta estar imbuída de um sentido de ordem e paz.

Artur representa uma pessoa madura, que seguiu o seu destino e a sua consciência e agora recebe o devido reconhecimento.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Rolando e a Durindana



Rolando, sobrinho preferido do imperador Carlos Magno, era o mais valente de todos os cavaleiros do seu tempo. Sem temer os inimigos, combatia bravamente em nome da fé cristã. Trazia sempre consigo a Durindana, espada inquebrável, originalmente pertencente a Heitor, bravo guerreiro de Tróia, sendo-lhe presenteada por Carlos Magno, quando completara dezessete anos. No punho de ouro da espada, encontrava-se um dente de São Pedro, gotas do sangue de São Basílio, um fio do cabelo de São Denis e um fio do manto da Virgem Maria. Sob o fio da lâmina da Durindana, muitos infiéis sarracenos tombaram.

Por sua valentia, Rolando foi designado por Carlos Magno a combater os sarracenos que se instalavam por toda a Península Ibérica. Assim, com a Durindana em punho, montado no seu valente e veloz cavalo Vigilante, o jovem vassalo partiu para a Ibéria, em nome da sua fé e do seu imperador. Na empreitada, foi acompanhado pelos também vassalos do rei, Ganelão e Oliveiros. Sob os seu comando estava o mais poderoso dos exércitos, formado pelos paladinos conhecidos como os Doze Pares da França.

De Saragoça a Pamplona, Rolando venceu os invasores sarracenos. Por onde passava, adquiria fama, temor e respeito. Mas quis o destino que o valente vassalo de Carlos Magno fosse traído por Ganelão. O traidor fez um pacto com o rei Marsílio, de Saragoça, para acossar o exército de Rolando e, conseqüentemente, ceifar-lhe a vida.

A grande emboscada aconteceu nos Pirinéus, na passagem de Roncesvales. Ali, foram surpreendidos pelos sarracenos. Aos poucos, Rolando viu cair sob a espada inimiga, os seus fiéis soldados. No meio de tão sangrenta batalha, o bom amigo Oliveiros, prometido de Auda, irmã de Rolando, pediu para que ele soasse o olifonte, alertando assim, o exército maior de Carlos Magno, fazendo com que viessem socorrê-los.

Mas as súplicas de Oliveiros foram inúteis, pois Rolando, garboso e destemido cavaleiro, não poderia manchar a sua honra mostrando medo, e recorrendo à ajuda do real do tio. Em resposta, atirou-se ferozmente aos inimigos, matando dezenas deles. Entre os seus mortos estava o filho do rei Marsílio. O próprio monarca teria a mão decepada pela Durindana. Ferido, o rei partiu com parte dos seus soldados. Morreria mais tarde, devido à hemorragia que sofrera. Antes de cerrar os olhos na morte, o rei ordenou que os seus homens vingassem o seu martírio e o do seu filho.

Sob a paisagem dos Pirinéus, a batalha entre os sarracenos e o exército de Rolando enchia os campos de sangue. Um a um, Rolando viu tombar os seus valentes soldados. Por fim, assistiu à morte do cavalo Vigilante. Já no final da luta, Rolando decidiu soar o olifonte. Vendo que a morte estava próxima, ele ainda tentou quebrar, em vão, a Durindana, para que não caísse nas mãos dos infiéis. Num último ato, cravou a espada mágica numa rocha.

Ao ouvir o olifante soar, Carlos Magno saiu em socorro do sobrinho. Chegara tarde demais, Rolando jazia inerte no chão de Roncesvales. O rei ajoelhou-se diante do corpo do cavaleiro, cobrindo o seu rosto com as suas lágrimas. Jurou ao morto que vingaria a sua morte. Assim, Carlos Magno venceu os líderes sarracenos, executou o traidor Ganelão e conquistou Saragoça. Em silêncio absoluto, moveu o corpo de Rolando até Blaye, enterrando o maior dos heróis dos Doze Pares da França. A Durindana ficou cravada, para sempre, numa rocha no meio do nada, à espera de um novo cavaleiro digno de usá-la.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Creio


creio nos anjos que andam pelo mundo,
creio na deusa com olhos de diamantes,
creio em amores lunares com piano ao fundo,
creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;

creio num engenho que falta mais fecundo
de harmonizar as partes dissonantes,
creio que tudo é eterno num segundo,
creio num céu futuro que houve dantes,

creio nos deuses de um astral mais puro,
na flor humilde que se encosta ao muro,
creio na carne que enfeitiça o além,
creio no incrível, nas coisas assombrosas,
na ocupação do mundo pelas rosas,
creio que o amor tem asas de ouro. amém.


Natália Correia

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Descobrir o Tarot com as Lendas Arturianas: A Roda da Fortuna

Anna-Marie Ferguson, The Arthurian Tarot

Favorecido pela Fortuna, Artur senta-se no topo da roda. Deste ponto vantajoso, consegue ver e absorver tudo o que acontece. O privilégio deste estado esclarecido é representado através das asas do voo espiritual.

A Távola Redonda forma a roda, simbolizando o movimento perpétuo da psique e das experiências da vida. A água é o subconsciente e as serpentes representam os nossos medos enraizados que aí habitam.

As experiências do passado na mó debaixo podem abalar a nossa confiança e deixar feridas psicológicas, principalmente insegurança e desconfiança. Estes medos inibem a nossa progressão e são representados pela criatura que se agarra ao homem em ascensão.

Os corpos que flutuam lembram-nos que a Fortuna nem sempre é justa. Ela é cega, e no seu girar, recompensa por vezes os sem valor e negligencia os que precisam.

Embora nunca cheguemos a compreender totalmente os caprichos da Fortuna, somos todos submetidos à sua roda de esperança, glória, arrependimento e desespero.

O Sonho de Artur


Mordred reuniu um exército contra seu pai, o rei Artur. Na véspera da sua derradeira batalha, Artur teve um sonho terrível.

Encontrava-se perdido num bosque cheio de feras. Estas banqueteavam-se com os corpos dos seus cavaleiros mortos. Aterrorizado com a visão, Artur correu até uma clareira. Encontrou um prado sereno onde pastavam rebanhos e vinhas de prata vergavam-se com o peso dos cachos.

Uma bela mulher, vestida com sedas bordadas e fitas de ouro, surgiu entre as nuvens. Tinha na sua mão uma roda que girava ocasionalmente. Atada a esta roda estava uma cadeira e, por baixo, estavam dois reis, tentando segurar-se desesperadamente à sua borda. O homem mais próximo da cadeira envergava um manto de prata, bordado com cruzes de ouro e o outro vestia um manto azul decorado com flores de lis.

A Fortuna agarrou em Artur e sentou-o na cadeira. Alimentou-o com uma grande variedade de frutos e vinhos, pedindo-lhe que bebesse em sua honra. Mostrou-lhe muito afecto, mas à medida que o tempo passava, foi adquirindo uma expressão ameaçadora. Artur apercebeu-se de águas profundas a seus pés, infestadas de assustadoras serpentes.

Proferindo as palavras "Perderás este jogo", a Fortuna girou subitamente a sua roda. Com a queda, Artur caiu esmagado pela roda e à mercê das serpentes monstruosas.

Artur acordou em pânico, mas rapidamente caiu num estado semiconsciente. Neste meio sono, apareceu-lhe o fantasma de Gawain que o preveniu de que se lutasse no dia seguinte, morreria.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Morrer de Amor

Aubrey Beardsley, Lancelot and the Witch Hellawes

Hellawes era uma feiticeira que amava à distância o nobre guerreiro Sir Lancelot, por quem se apaixonara profundamente há sete anos. Acabou por conseguir atraí-lo à sua Capela dos Perigos onde tentou por todos os meios que conhecia inspirar o seu amor.

Mas não lhe servia de nada porque o cavaleiro constante e leal amava apenas uma mulher, a rainha de Artur, a bela Guinevere, e viera à capela com uma única missão em mente, a de buscar talismãs medicinais para o cavaleiro ferido Sir Meliot.

Quando Lancelot partiu com os talismãs, não estava minimamente afectado pelo amor de Hellawes nem pela sua magia. A feiticeira compreendeu enfim que ele jamais a havia de amar e morreu de desgosto amoroso.


"Triste Vida Vivyre" - Sete Lágrimas (Diáspora)

Lancelot no Exílio

Frank Godwin

Lancelot era o mais valente cavaleiro da Távola Redonda e despertou muitas paixões. O rei Pelles tinha uma filha muito bela, Elaine de Corbenic, que se apaixonou pelo cavaleiro. Mas ao contrário de outras mulheres da corte, Elaine não se deteve perante o amor de Lancelot pela rainha Guinevere. Com a ajuda da sua aia Brisen, recorreu às artes mágicas para seduzir o seu amado.

Brisen era uma feiticeira que previu que, da união de Lancelot e Elaine, nasceria Galahad, o cavaleiro puro. E assim conduziu Lancelot aos aposentos de Elaine, fazendo-o crer que estava com Guinevere. Infelizmente, foram surpreendidos por uma enfurecida Guinevere que, num acesso de raiva e ciúme, os baniu da corte. Apercebendo-se então do engano e desesperado com as palavras da rainha, Lancelot, ensandecido,fugiu pela janela, buscando protecção na floresta.

Durante dois anos, permaneceu nos bosques, vivendo com os animais e alimentando-se de frutos silvestres. Os cavaleiros da Távola Redonda procuraram-no em vão. Até que um dia, Elaine encontrou-o adormecido junto a um poço. Imediatamente alertou o seu pai - o guardião do Graal. E foi graças ao Santo Cálice que Lancelot recuperou a sanidade.

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