Elizabeth Frampton, Fairyland
Era pelo mês de Abril,
De Maio antes um dia,
Quando lírios e rosas
Mostram mais sua alegria;
Era a noite mais serena
Que fazer no céu podia,
Quando a formosa infanta,
Flérida já se partia;
E na horta de seu padre
Entre as árvores dizia:
- Com Deus vos ficai, flores,
Que éreis a minha alegria!
Vou-me a terras estrangeiras
Pois lá ventura me guia;
E se meu pai me buscar,
Pai que tanto me queria,
Digam-lhe, que amor me leva,
Que eu por vontade não ia;
Mas tanto teimou comigo
Que me venceu com porfia.
Triste, não sei onde vou,
E ninguém não mo dizia!...
Ali fala Dom Duardos:
- Não choreis, minha alegria,
Que nos reinos de Inglaterra
Mais claras águas havia,
E mais formosos jardins,
E flores de mais valia.
Tereis trezentas donzelas
De alta genealogia;
De prata são os palácios
Para Vossa Senhoria;
De esmeraldas e jacintos
E oiro fino de Turquia,
Com letreiros esmaltados,
Que a minha vida se lia,
Contando das vivas dores
Que me destes nesse dia
Quando com Primalião
Fortemente combatia:
Matastes-me vós, senhora,
Que eu a ele o não temia...
Suas lágrimas enxugava
Flérida que isto ouvia.
Já se foram as galeras
Que Dom Duardos havia.
Cinquenta eram por conta,
Todas vão em companhia.
Ao som do doce remar
A princesa adormecia
Nos braços de Dom Duardos,
Que tão bem a merecia:
Saibam quantos são nascidos
Sentença que não varia:
Contra a morte e contra amor
Que ninguém não tem valia.
Almeida Garrett, Romanceiro