Numa manhã de S. João, isto já há muitos anos, uma velha da Madalena tinha-se levantado cedo para ir à missa. Costumava pentear-se à janela da cozinha e entretanto ia olhando para o mar e via como estava o tempo. É um costume da gente do Pico ir à janela ao amanhecer, logo que se alevantam, p’ra verem como vai ser o dia. Não há melhor maneira de ver o tempo!
Naquela manhã, ao olhar para o mar em direcção à baixa que ficava lá em frente, ficou tola com o que enxergou: uma ilha com muitas flores estava onde sempre só tinha visto água.
Virou-se para dentro e chamou os parentes com nervosismo, a gaguejar, sem força para pronunciar as palavras. Demorou apenas um instante, voltou-se logo para fora para mirar aquela ilha que, sem saber como, lhe tinha aparecido, mas já não viu nada de diferente. Apenas as águas tranquilas do canal se estendiam azuis como sempre.
Mesmo assim teve forças para ir à missa. Vestiu-se à pressa, amanhou-se como pôde, pôs o xaile por cima de si. O caminho foi mais fácil de passar naquele dia porque ia inquieta para contar a novidade a alguém. Ao chegar à igreja foi logo falar com o padre à sacristia e pô-lo a par do acontecimento estranho. Contudo o pároco não pareceu muito admirado e na sua sabedoria e calma habitual disse-lhe:
— Se a tia tivesse abençoado a ilha, dizendo “Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” ela tinha-se desencantado e nunca mais desaparecia.
Muitas outras manhãs de S. João a velha fez o que sempre costumava, mas nunca mais viu a ilha que ainda hoje continua encantada mesmo ali em frente à Madalena.
FURTADO-BRUM, Ângela, Açores: Lendas e outras histórias, Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999