segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Lenda da Ribeira dos Moinhos















John Duncan, The Turn of the Tide

Havia há muitos anos atrás, no mar, na foz da Ribeira dos Moinhos, no Nordeste, uma linda ilha, onde vivia um rei com a sua família e os seus amados súbditos. Este rei tinha uma filha jovem e muito bonita, que gostava de ir todas às manhãs passear pelas montanhas verdes e frescas da ilha. Quem a via passar não podia deixar de a olhar embevecido e todos os rapazes a cobiçavam pela sua beleza.

Uma certa vez, vindo de um outro reino, chegou à ilha um príncipe muito rico e poderoso, que logo se apaixonou pela filha do rei. Queria casar com ela a toda a força, mas a princesa, dando desculpas e justificações, recusou sempre delicadamente o pedido do príncipe. Ele estava habituado a mandar, era forte e poderoso e teimou, teimou. Mas a princesa não voltou com a sua palavra atrás: não queria casar com ele.

O príncipe ficou cheio de raiva e ódio e tomou uma decisão maldita. Mandou chamar uma bruxa muito poderosa do seu reino. A bruxa com breves e eficazes palavras fez desaparecer a ilha. Toda a alegria e agitação que ali havia se encantou de um momento para o outro.

Mas, ainda hoje em dia, as pessoas do Nordeste, que moram perto deste lugar, vêem, em manhãs de nevoeiro, a dita ilha. Ela aparece no mar, ali muito pertinho, envolta em nuvens leves e transparentes como cambraia. Pode ver-se a azáfama das pessoas a trabalhar no campo, ceifando o trigo louro e curvado do peso das espigas maduras e cheias. Quem olhar com atenção ainda poderá ver a princesa linda como sempre a passear pelo campo.


FURTADO-BRUM, Ângela, Açores: Lendas e outras histórias, Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999
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