John Duncan, The Turn of the Tide
Havia há muitos anos atrás, no mar, na foz da Ribeira dos Moinhos, no Nordeste, uma linda ilha, onde vivia um rei com a sua família e os seus amados súbditos. Este rei tinha uma filha jovem e muito bonita, que gostava de ir todas às manhãs passear pelas montanhas verdes e frescas da ilha. Quem a via passar não podia deixar de a olhar embevecido e todos os rapazes a cobiçavam pela sua beleza.
Uma certa vez, vindo de um outro reino, chegou à ilha um príncipe muito rico e poderoso, que logo se apaixonou pela filha do rei. Queria casar com ela a toda a força, mas a princesa, dando desculpas e justificações, recusou sempre delicadamente o pedido do príncipe. Ele estava habituado a mandar, era forte e poderoso e teimou, teimou. Mas a princesa não voltou com a sua palavra atrás: não queria casar com ele.
O príncipe ficou cheio de raiva e ódio e tomou uma decisão maldita. Mandou chamar uma bruxa muito poderosa do seu reino. A bruxa com breves e eficazes palavras fez desaparecer a ilha. Toda a alegria e agitação que ali havia se encantou de um momento para o outro.
Mas, ainda hoje em dia, as pessoas do Nordeste, que moram perto deste lugar, vêem, em manhãs de nevoeiro, a dita ilha. Ela aparece no mar, ali muito pertinho, envolta em nuvens leves e transparentes como cambraia. Pode ver-se a azáfama das pessoas a trabalhar no campo, ceifando o trigo louro e curvado do peso das espigas maduras e cheias. Quem olhar com atenção ainda poderá ver a princesa linda como sempre a passear pelo campo.
FURTADO-BRUM, Ângela, Açores: Lendas e outras histórias, Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999