Há muitos anos atrás, um navio carregado de trigo navegava pelo sul da ilha de Santa Maria, quando os marinheiros viram um cavaleiro com semblante real montado no seu cavalo, que vinha andando por cima das águas. Aproximou-se dos marinheiros, que estavam imóveis de admiração e medo. Sem rodeios, o cavaleiro, disse que queria comprar alguns sacos de trigo dos que o navio transportava.
O comandante, talvez ainda amedrontado, concordou em vender-lho e perguntou-lhe:
— Onde ponho o trigo que nos comprou?
— Vazem-no para o mar porque vai ter ao nosso celeiro — respondeu o cavaleiro e em seguida convidou o comandante — monta para o meu cavalo e vem à minha terra buscar o dinheiro da paga dos sacos de trigo que eu venho trazer-te novamente ao navio.
O comandante, sem saber bem o que fazer, aceitou o convite e, depois de uma estranha viagem, com grande espanto seu, encontrou, numa cidade muito bonita, a âncora do seu navio presa ao adro de uma igreja e o trigo a correr por umas calhas para os celeiros.
O cavaleiro levou-o à sua casa, onde estava a filha, uma linda rapariga. O comandante ficou encantado com a sua beleza e logo se apaixonou por ela. Então o cavaleiro perguntou-lhe:
— Senhor comandante, quer o dinheiro do trigo e partir ou prefere casar com a minha filha? Mas, se casar com ela, a ilha em que vivemos, há muitos anos, ficará desencantada para sempre.
O comandante estava enamorado e respondeu:
O comandante estava enamorado e respondeu:
- O meu maior desejo era casar com a vossa filha, mas primeiro tenho que cumprir o meu dever e ir levar o trigo aos meus patrões.
Despediram-se. O comandante voltou a saltar para o cavalo, vindo para o navio. Seguiu viagem e, embora por ali tivesse passado em viagem muitas outras vezes, nunca mais pôde ver aquela ilha encantada no fundo do mar, onde vive há muitos anos o rei D. Sebastião.
FURTADO-BRUM, Ângela, Açores: Lendas e outras histórias, Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999