quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Tristão e Isolda - Parte IV

O barco chegou a Tintagel e Isolda agradou imensamente ao rei Mark. Contudo, não foi com Isolda que dormiu na noite do casamento. Tristão teve consciência de que o rei viria a descobrir não ter sido o primeiro a possuir Isolda: por isso, persuadiu Brangaine a esgueirar-se para o leito nupcial, no momento em que as luzes fossem apagadas. Assim começaram os muitos enganos que iriam levar, finalmente, à descoberta do amor secreto entre Tristão e Isolda, pois os amantes não podiam estar longe um do outro, por mais esforços que fizessem. Tanto Tristão como Isolda se sentiam muito culpados, pois cada um deles tinha grande afeição por Mark; porém, a poção mágica fora planeada para durar três anos e era demasiado forte para que pudessem resistir.

Aqueles que sempre tinham tido inveja de Tristão encontravam, agora, uma maneira de o desfavorecer. Não lhes foi difícil despertar as suspeitas do rei, pois Tristão e Isolda estavam sempre a namoriscar, por cima da mesa, durante os banquetes. Particularmente um homem, Andret, que acalentava um secreto desejo por Isolda, esperava que, um dia, os amantes fossem descobertos. Os rumores aumentaram e Mark expulsou Tristão da corte. Mesmo assim, os amantes não se afastaram. Havia uma nascente, num pomar, fora das muralhas de Tintagel, que corria como um regato para dentro do forte; Tristão escondia-se no topo de uma árvore do pomar e atirava para o regato flores no Verão ou raminhos no Inverno, assinalando assim a Isolda que estava à sua espera. Andret pediu a um druida que visse através das estrelas, se os dois continuavam a ver-se. O druida viu tudo no céu nocturno: o pomar, as flores no regato e Isolda esgueirando-se do forte.




Um dia, o druida predisse que iria ter lugar um encontro amoroso, enquanto o rei andasse à caça do javali, nessa noite. Assim, Andret planeou fazer o rei regressar mais cedo, antes da madrugada seguinte, altura em que era esperado. Tristão e Isolda encontraram-se entre os aromas nocturnos das flores do pomar, enquanto Brangaine, como de costume, ficava de vigia na torre, por cima do quarto de Isolda. Quando os primeiros alvores da madrugada tingiam já o céu estrelado, Brangaine cantou:

Deus da luz, que tornas as coisas verdadeiras e claras,
Por favor, sê fiel e ajuda os meus companheiros,
Pois não os vejo desde o crepúsculo
E dentro em breve será madrugada.


Bons companheiros, se estão a dormir ou acordados,
Não durmam mais, meus amos, por favor.
Porque no céu do Oriente a estrela sobe,
Aquela que anuncia o dia, que eu sabia que viria,
E dentro em breve será madrugada.


Bons companheiros, o meu canto está a chamá-los,
Não durmam mais, pois já oiço o pássaro a cantar
Enquanto olha o dia por entre os bosques.
E eu receio que o homem ciumento esteja à vossa procura,
E dentro em breve será madrugada.

Tristão devolveu-lhe o canto:

Linda e doce companheira, tão rico é este lugar,
Que eu desejaria que nunca fosse madrugada ou dia.
Pois a mulher que estreito nos meus braços
É a mais bela que alguma vez uma mãe deu à luz,
E é por isso que pouco me importo
Com o louco ciumento e a madrugada...

O canto de Tristão foi interrompido pelo rei Mark e pelos seus guerreiros, que tinham entrado silenciosamente no pomar, guiados por Andret. Os dois amantes foram presos e a sua punição foi imediatamente pronunciada: Tristão e Isolda seriam queimados, num poço de ramos a arder. A caminho do local da morte, foi permitido a Tristão fazer uma oferta de apaziguamento aos deuses encolerizados, sobre uma rocha sagrada, acima do mar. "Salva-te!", gritou Isolda. "Se viveres, também eu viverei na morte." E Tristão saltou para o mar; o rochedo era tão alto que todos os que o viram saltar o consideraram morto. O único som audível era o grito das gaivotas.

"Um belo sacrifício a Mannanan, o deus do mar", disse Mark, e Isolda foi levada para o poço da morte. Um grupo de homens enfermos, que vivia na floresta em redor de Tintagel, aproximou-se do local. "Uma vez que a rainha Isolda tem de morrer", disse um deles, com o rosto hediondamente picado das bexigas, "por que não a deixar connosco, para nosso prazer. Em breve morrerá e a sua morte apaziguará os demónios que trouxeram a doença para as tuas terras". Isolda foi libertada e levada dali.
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