Havia já várias semanas que Tristão começara a recuperar, com a ajuda das ervas de Isolda. Esta sentia-se cada vez mais atraída por este estranho que, mesmo na sua cama de doente, tocava harpa tão maravilhosamente. Para ela, era curioso que um tal menestrel fosse também um valente guerreiro, pelo que desejou de todo o coração que sobrevivesse ao veneno do dragão e a pedisse como prémio.
Chegou o dia de sair da cama e, enquanto Tristão tomava banho, Isolda limpou-lhe a armadura. A falha na espada chamou-lhe a atenção e ela correu ao quarto em busca do fragmento embrulhado em seda que, ainda não havia muito tempo, retirara da cabeça do seu tio; o fragmento ajustava-se perfeitamente à falha na espada do menestrel. Naquele momento, os sentimentos de amor de Isolda por Tristão transformaram-se em ódio. "Finalmente, os deuses trouxeram-te até mim", disse-lhe. "Tu és o homem que assassinou o meu tio Morholt. Nesse dia aziago, em que percebi que as minhas ervas não tinham poder sobre a morte, jurei que um dia teria a minha vingança".
"Matei Morholt em combate", disse Tristão, "e no interesse do meu rei. Não houve perfídia na morte de teu tio, mas esta triunfará, se me matares, pois, então terás de casar com o camareiro que reivindica ter morto o dragão. Sou o único homem que pode provar que ele está a mentir." Isolda saiu enfurecida do quarto e, nessa noite, nenhum deles conseguiu dormir.
No dia seguinte, a corte reuniu-se para ouvir o camareiro apresentar o seu pedido oficial de Isolda. "Não foi tarefa fácil", disse, erguendo a cabeça do dragão, "mas não sofri quaisquer ferimentos e todos defenderei, igualmente, quando chegar o próximo monstro." "És tu esse monstro mentiroso", gritou Isolda, "e aqui está o homem que realmente matou o dragão." Tristão foi introduzido no salão. "Que o prove!", disparou, rancorosamente, o camareiro.
"Este cobarde tem a cabeça", disse Tristão, "mas eu tenho a língua mortal. Sou Tristão, real sobrinho do rei da Cornualha. Fui mandado aqui para descobrir a dona deste cabelo dourado, e penso que, ao matar o dragão, a encontrei." Tristão ergueu bem alto a língua do dragão numa das mãos e o cabelo na outra. Todos os homens e mulheres presentes ficaram sufocados, pois a língua era medonha e o cabelo lindo: e todas as cabeças se voltaram do intimidado camareiro para a princesa Isolda.
"O teu rei terá Isolda como sua rainha", disse o rei irlandês, "e que este casamento traga a paz entre os nossos dois países." Um dia antes de partirem para a Cornualha, a mãe de Isolda deu a Brangaine uma poderosa poção de amor. "Vais ter de deitar metade disto no vinho do rei da Cornualha, e metade no da minha filha, na noite do seu casamento. Isto fará com que fiquem ligados pelo amor."
O barco largou do porto de Dublin e Isolda manteve-se na popa a olhar o pôr do sol, em tons de vermelho e ouro, sobre a sua terra, enquanto desta se afastava. Durante dois dias o mar foi percorrido pelos carros triunfais da tempestade de Manannan, o deus do mar; no terceiro dia, os ventos amainaram, fazendo-se sentir uma estranha calmaria. O sol dardejava sobre Tristão e Isolda, enquanto se divertiam com um jogo de bordo para passar o tempo: Isolda ainda não falava com Tristão. Chamou Brangaine, para lhes trazer, do cesto de viagem, uma refrescante bebida de ervas. Beberam, como era costume, da mesma tigela. Enquanto bebiam, o vento soprou de novo e as velas enfunaram, as ondas levantaram-se e os borrifos salgados salpicaram os seus cabelos. As suas mãos tocaram-se, quando passaram a tigela um ao outro, primeiro timidamente, e, depois, inebriados pela paixão que a bebida lhes inspirou. Brangaine, por engano, servira-lhes a poção amorosa.
"O teu rei terá Isolda como sua rainha", disse o rei irlandês, "e que este casamento traga a paz entre os nossos dois países." Um dia antes de partirem para a Cornualha, a mãe de Isolda deu a Brangaine uma poderosa poção de amor. "Vais ter de deitar metade disto no vinho do rei da Cornualha, e metade no da minha filha, na noite do seu casamento. Isto fará com que fiquem ligados pelo amor."
O barco largou do porto de Dublin e Isolda manteve-se na popa a olhar o pôr do sol, em tons de vermelho e ouro, sobre a sua terra, enquanto desta se afastava. Durante dois dias o mar foi percorrido pelos carros triunfais da tempestade de Manannan, o deus do mar; no terceiro dia, os ventos amainaram, fazendo-se sentir uma estranha calmaria. O sol dardejava sobre Tristão e Isolda, enquanto se divertiam com um jogo de bordo para passar o tempo: Isolda ainda não falava com Tristão. Chamou Brangaine, para lhes trazer, do cesto de viagem, uma refrescante bebida de ervas. Beberam, como era costume, da mesma tigela. Enquanto bebiam, o vento soprou de novo e as velas enfunaram, as ondas levantaram-se e os borrifos salgados salpicaram os seus cabelos. As suas mãos tocaram-se, quando passaram a tigela um ao outro, primeiro timidamente, e, depois, inebriados pela paixão que a bebida lhes inspirou. Brangaine, por engano, servira-lhes a poção amorosa.
in Introdução à Mitologia Céltica, de David Bellingham, Editorial Estampa, 1999