domingo, 15 de agosto de 2010

O Santo Graal: Demanda do Absoluto

SANGREAL

O aspecto mais importante a ser acrescentado à história do Graal foi a sua associação à Eucaristia Cristã. Isto influenciou todas as versões posteriores da lenda. O Graal passou a ser visto como um símbolo do sacrifício de Cristo, tornando-se "no corpo de Nosso Senhor". É este elemento único da Eucaristia, a comunhão com Deus, que torna o Graal diferente de qualquer outro objecto sagrado. O Graal conteve o sangue derramado por Cristo na Cruz.

Permanece, contudo, uma forte influência da magia céltica no mito cristão. Quando o Santo Graal apareceu em Camelot, o cálice perfumou o salão de Artur de doces aromas, de tal modo que os cavaleiros da Távola Redonda comeram e beberam como nunca. Era, na verdade, nada menos que um caldeirão celta da abundância.

O trago que Sir Galahad dele bebeu a convite de José de Arimateia, garantiu-lhe a sobrevivência espiritual. Como um caldeirão celta do renascimento, permitiu a Sir Galahad viver num outro mundo cristão. Esta óbvia inspiração na mitologia celta impediu a igreja de aceitar plenamente o Graal como símbolo cristão. A grande popularidade das histórias do Graal obrigou a uma certa tolerância por parte do clero.

O Ciclo da Vulgata (séc.XIII), compilado por monges cistercienses, aprofundou a mitologia e o simbolismo do Graal, introduzindo personagens, tais como eremitas, que interpretavam os sonhos e visões dos cavaleiros na senda do Graal. Tal foi possível pois os séculos XII e XIII foram uma época de ainda relativa liberdade doutrinal. Em 1200 estamos ainda a trinta anos do estabelecimento da Inquisição e ainda serão precisos mais cinquenta para a Igreja sancionar o uso de tortura contra suspeitos de heresia.

De qualquer modo, cristão ou pagão, o Graal simplesmente é. Símbolo universal, tem uma dimensão de mistério, mas também de sacrifício, de altruísmo e de busca do absoluto, quer lhe chamemos Deus ou Deusa, Centelha Divina, ou um outro qualquer termo abstracto.


Holy Grail, de Edwin Austin Abbey, 1895


Referência Bibliográfica:

MATHEWS, John, The Arthurian Tradition, Element Books Limited, 1994


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