sábado, 14 de agosto de 2010

O Santo Graal: Demanda do Absoluto

O TOLO INOCENTE

A primeira história escrita do Graal não é nitidamente pagã nem nitidamente cristã - mas podemos optar por vê-la por um dos dois prismas.

Por volta de 1180, Chrétien de Troyes, já conhecido pelos seus diversos poemas arturianos, começou a trabalhar no seu romance final - Perceval e a História do Graal. No entanto, morreu antes de o terminar  deixando em aberto o seu final. A narrativa conta-nos sobre a descoberta do Graal por Perceval, mas depois a acção desvia-se para as aventuras de Gawain, que também busca o Cálice. A meio desta parte da história e a meio de uma frase, a narrativa acaba....


José de Arimateia recolhe o sangue de Cristo para a Taça da Última Ceia (Franz Stassen)

Vários escritores tentaram completar a história de Chrétien e resolver assim o mistério, com variáveis graus de sucesso. Outras versões independentes também surgiram. Robert de Borron (1170 - 1212) escreveu uma trilogia de romances em verso sobre José de Arimateia, Merlim e Perceval, fazendo a ligação entre o Graal e a taça utilizada na Última Ceia. Deste modo, imbuiu a lenda de espiritualidade e cristianizou-a de um modo que ainda não tinha sido feito. De Borron sugeriu que o Graal tinha contido o sangue de Cristo na cruz, tranformando-o assim numa relíquia cristã. 

A sua versão da história teve grande impacto e desencadeou uma sucessão de narrativas posteriores que levaram o Graal a atingir uma dimensão e um poder certamente nunca sonhados por Chrétien de Troyes, por Robert de Borron ou pelo mítico Blihis.

Parsifal, de Jean Delville

Perceval, O Tolo Inocente, é o campeão do Graal - o seu Guardião. É estabelecido como descendente de José de Arimateia, o judeu rico que abdicou do seu próprio túmulo para receber o corpo de Cristo e que recebeu o Graal e os seus ensinamentos secretos do Messias Ressuscitado, viajando depois para a Britânia onde construiu depois a primeira igreja cristã, dedicada à Virgem Maria, em Glastonbury.

Pelles, da Família do Graal, rei de Corbenek, ficou enfermo, vítima de um golpe desferido pelo cavaleiro Balin O Selvagem (visto por alguns como representante do paganismo). Deste golpe resultou uma ferida que só poderia ser curada pelo herói do Graal. Só ele poderia também restaurar o reino, tornado um ermo, à vida desde que colocasse uma questão ritual: A quem serve o Graal? A pergunta poria em acção uma série de acontecimentos conducentes à cura do rei, à revitalização da terra e a algo, menos tangível do que os outros elementos, que de algum modo traria a transformação do mundo inteiro.


How Balin Smote the Dolorous Stroke, de Alfred Kappes

É este "algo" que tem ocupado as energias de incontáveis demandas desde então. O Graal é apontado como a fonte da cura para todos os males do mundo. Ao encontrá-lo, virá a libertação total do Amor, que poderá mudar o mundo para sempre - talvez até trazer o fim dos tempos e passagem da humanidade para um outro plano...
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