Há muito tempo atrás, um tempo demasiado remoto para ser identificado, uma ideia cristalizou-se na forma de um recipiente sagrado contendo toda a sabedoria e conhecimento, contendo a explicação do universo e a verdade que tornaria a humanidade imortal.
Nos antigos ensinamentos dos mistérios helénicos é referida a Taça (Crater) onde os deuses misturaram a essência de toda a criação. Os Sufis viam-na como a Taça de Jamshid, de onde brotava a inspiração divina e todo o conhecimento. Concepções semelhantes são encontradas na Índia, no Japão, na Rússia e nos povos Celtas.
Os Caldeirões do Renascimento seriam certamente grandes banheiras onde cabiam os corpos dos guerreiros alvejados. Aqui, um deus enorme parece mergulhar os guerreiros numa grande selha ou vaso, provavelmente um Caldeirão do Renascimento, enquanto as tropas montadas galopam em cima, após o seu mergulho de regeneração. (Caldeirão Celta, Prata Dourada, 100 AC)
Por volta do início do século XI, alguém escreveu uma história tecida a partir de lendas celtas ou orientais...
A tradição atribui-lhe o nome de Blihis ou Bliheris. Não se sabe ao certo se mencionava um Caldeirão ou um Cálice pois todos os registos dessa história já desapareceram. Talvez nem seja importante sabê-lo, nem, aliás, descortinar qual influenciou qual...
Há muita controvérsia sobre a natureza e aparência do Graal, sobre se é um símbolo pagão ou uma imagem cristã. Mas no fim, tais especulações serão fúteis pois desviam-nos do significado primordial da história. Há realmente aspectos do Graal que reflectem o Caldeirão mágico dos celtas; e há elementos no Caldeirão que prefiguram os registos medievais sobre o Graal.
Com efeito, é nas versões cristãs da história que se desenvolve o seu significado e que o verdadeiro poder do Graal é revelado.
O Graal, ou Sangreal, apareceu aos cavaleiros da Távola Redonda emanando uma luz fulgurante na qual se viram uns aos outros com maior ponderação e generosidade do que antes. A visão calou-os, tal como os guerreiros celtas que emergiam do Caldeirão do Renascimento, vivos mas mudos. O Graal em si, envolto em samito branco, tinha a forma de um cálice da Eucaristia, recordando a taça da Última Ceia. O cálice imbuiu o salão de doces aromas, e os cavaleiros comeram e beberam como nunca, o que lembra os antigos Caldeirões da Abundância celtas. (Iluminura, c. 1400)
Referências Bibliográficas:
MATHEWS, John, The Arthurian Tradition, Element Books Limited, 1994
COTERELL, Arthur, Enciclopédia de Mitologia, Central Livros, 1998