Merlim, sábio do Outro Mundo, era um vidente inspirado e um mago místico, um prudente conselheiro e leal amigo. Esta impressionante encenação capta a natureza mística e visionária dos bardos celtas enraizada numa estreita afinidade com a natureza. (Merlin, de Alan Lee, 1984)
Merlim é uma figura multifacetada: druida, bardo, monge, mago, astrónomo, necromante, jovem e velho sábio. Conhecido também como vidente e profeta, é o principal conselheiro do rei Artur.
Acredita-se que a história de Merlim tem a sua origem nas lendas sobre um bardo e profeta celta, que terá vivido no século VI dc, de seu nome Myrddin. Estas lendas dão conta da sua responsabilidade na criação de conflitos entre os chefes britânicos causando a Batalha de Arderydd. Como castigo (sobrenatural), Myrddin perdeu a razão e foi desterrado para a floresta de Celidon, em terras escocesas.
Merlim aparece pela primeira vez, na sua forma literária, em History of the Kings of Britain, de Geoffrey de Monmouth, no início do século XII. A sua magia era de tal modo poderosa que, segundo esta obra, lhe terá proporcionado os meios para o transporte de Stonehenge, do seu sítio original na Irlanda, para a planície de Salisbury.
Noções cristãs e pré-cristãs combinam-se de modo bizarro na orientação que o mago proporcionou ao pai de Artur. Merlim apoiou Uther Pendragon e empregou os seus poderes para que este dormisse com Igraine, esposa do Duque da Cornualha, disfarçando-o sob a aparência do próprio marido. Com este embuste, Artur foi concebido. De acordo com Tales of King Arthur, de Thomas Malory, a condição imposta a Uther para a concretização do engodo foi a posterior entrega da educação de Artur a Merlim. É também a Merlim que Malory atribui a criação da Távola Redonda, presente para Uther Pendragon. E é também Merlim o responsável pela espada encravada na pedra que só Artur consegue arrancar, provando o seu direito ao trono.
Quando ascendeu ao trono, o rei Artur depositou a sua confiança nos conselhos do mago e serviu-se amiúde deste como seu mensageiro já que, como muitos deuses e deusas celtas, este assumia a forma que quisesse.
Merlim e Nimue, de Edward Burne-Jones, c.1870
Merlim, apesar de toda a sua sabedoria, foi enfeitiçado pela Dama do Lago que usou para seus próprios fins o amor do mago - extorquiu-lhe os poderes e devassou-lhe os conhecimentos secretos. Merlim deixou-se atrair para debaixo de uma pedra onde ficou preso pelas suas próprias artes mágicas. Numa outra lenda, Nimue encantou Merlim sob um espinheiro e depois enrolou o seu véu de volta dele, criando uma torre de ar invisível na qual ele ficou para sempre aprisionado. Diz-se que a sua voz ainda se pode ouvir no lamento do vento roçando as folhas.
No romance Suite de Merlin, o túmulo de Merlim, conhecido como "Perron de Merlin", tornou-se num ponto de encontro dos cavaleiros da Távola Redonda, quando de partida para as suas aventuras. Dir-se-ia que, mesmo na sua ausência, o mago continuava a influenciar o mundo de Artur.
Referência bibliográfica:
COTTERELL, Arthur, Enciclopédia de Mitologia, Central Livros LDA, 1998