A Mitologia Celta é fértil em feitiços, que revestem as histórias de uma qualidade onírica e cativante. O omnipresente Outro Mundo esconde-se por trás de grande parte das manifestações misteriosas e mágicas, penetrando as florestas e os lagos, e providenciando anéis e armas encantadas. Contudo, os feitiços surgiam também no mundo visível onde os bardos, os druidas e alguns heróis privilegiados, como Finn MacCool, possuíam poderes mágicos. Os bardos podiam debilitar o inimigo pelo poder da sátira ou de um sono encantado, enquanto os druidas enfeitiçavam o anfitrião com ilusões mágicas.
Fora do campo de batalha, o amor e a paixão eram igualmente sujeitos a feitiços, filtros do amor, ou encantos mágicos, como nos romances de Sadb, Rhiannon e Isolda. Mais afortunados, alguns heróis recebiam presentes do Outro Mundo, como a espada de Artur, Excalibur, ou a espada sidhe de Fergus Mac Roth; e inúmeros heróis foram alimentados ou ressuscitados por caldeirões mágicos.
A floresta encantada das lendas arturianas estava repleta de belas fadas sedutoras, que tentavam os cavaleiros errantes. Uma delas, La Belle Dame Sans Merci, descrita pelo poeta Keats, era uma banshee que atraía os amantes mortais para seu divertimento, inspirando-lhes uma paixão desesperada e depois deixando-os desprovidos de vontade ou objectivo na vida, até morrerem no lago, "sós e definhando palidamente". Aqui vemos o cavaleiro debilitado a dormir, sonhando com os pálidos reis e guerreiros escravizados pela Belle Dame. (La Belle Dame Sans Merci, de H. M. Rheam, 1897)
Excalibur, espada encantada de Artur brilhava com a luz de trinta tochas, ofuscando os seus inimigos. A preciosa bainha impedia a perda de sangue na batalha, mas Artur deu imprudentemente este talismã à sua meia irmã Morgana a Fada, para que o guardasse, e logo ela fabricou uma cópia para Artur, entregando o original ao seu amante, Accolon.
(Ilustração de Aubrey Beardsley, c. 1870)
Merlin, embora sábio e ponderado, foi enfeitiçado pela arrebatadora Dama do Lago, Nimue, e, mau grado a sua prudência, deixou-se atrair para debaixo de uma pedra onde ficou preso pelas suas próprias artes mágicas. Numa outra lenda, Nimue encantou Merlin sob um espinheiro e depois enrolou o seu véu de volta dele, criando uma torre de ar invisível na qual ele ficou para sempre aprisionado. Diz-se que a sua voz ainda se pode ouvir no lamento do vento roçando entre as folhas. (Ilustração de Alan Lee, 1984)