quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A Lenda da Ilha das Sete Cidades



Antília, também lhe chamavam. E foi porto sonhado de navegadores. Contou Fernando Colombo, o filho de Cristóvão Colombo, almirante de Espanha, que notícias dessa ilha perdida no Atlântico chegaram um dia à Madeira, notícias que fizeram nascer em seu pai desejos de partida e busca.

Muitas são as lendas referentes aos Açores que relatam a existência naquele local do Atlântico de uma enorme ilha, maravilhosa e estranha. As nove ilhas do arquipélago seriam para muitos, de acordo com essas lendas antiquíssimas, os restos de uma esplendorosa civilização que chega a ser ligada à mítica Atlântida descrita por Platão.

As cartas de marear anteriores aos descobrimentos marítimos traziam figurada a oeste de Portugal, no Atlântico Ocidental, uma enorme ilha designada Ilha das Sete Cidades. Segundo a tradição corrente, essa ilha era possuidora de riquezas fabulosas.

Conta a lenda que no tempo da invasão dos mouros, no ano714, um grupo de sete bispos fugiu da península com todos os cristãos que quiseram acompanhá-los. Embarcaram em navios, na foz do Douro, e partiram em busca de segurança e paz. Arrastados por uma terrível tempestade, os viajantes acabaram por dar por si frente a uma ilha deserta e de aparência paradisíaca. Estabeleceram-se e dividiram o território em sete parcelas onde cada bispo fundou uma cidade com governo próprio.

Tão bem se acharam que, para evitarem a fuga, dos habitantes que com eles haviam chegado, afundaram os barcos. Dali por diante, cada vez que uma embarcação chegava à ilha, por acaso, a tripulação era retida e os barcos destruídos para que no mundo exterior não fosse possível saber-se da existência daquela ilha utópica.

Diz-se que as cidades eram enormes e bem delineadas. Os palácios tinham paredes de ouro maciço. A paz total em que viviam possibilitava-lhes o estudo e a resolução de alguns problemas vitais e talvez por isso o trabalho do campo e a criação de gado desenvolviam-se a bom ritmo. Os bispos inventaram mil mecanismos auxiliares do trabalho manual, suavizando assim as condições de vida e possibilitando a todos os habitantes um desenvolvimento espiritual e filosófico só possível numa civilização em que o ócio não é um luxo. E as pessoas eram felizes e sem contendas.

Certo dia, não se sabe bem porquê, um enorme cataclismo assolou aquela ilha amada de Deus. A terra tremeu e fez desmoronar os maravilhosos palácios e muralhas das sete cidades, enquanto ondas gigantescas se encarregavam de apagar da face do mar a imagem daquele paraíso. No seu lugar ficaram pequenos restos de terra escancarados para o céu em picos de fogo e lava.

Por isso, quando os Portugueses chegaram aos Açores só lá encontraram nove pequenos pedaços de paraíso, perdidos na imensidão do mar. Riquezas já não existiam e gente não sobrevivera à fúria dos elementos. Tudo quanto restou foi a memória do paraíso fabuloso e duas belíssimas lagoas, uma verde, outra azul: a Lagoa das Sete Cidades.

in Lendas Portuguesas, de Fernanda Frazão
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