"Na tradição celta, o Outro Mundo (ou o Além) é um lugar de realidade superior, onde vivem os deuses e a plenitude do potencial individual é revelada. Não é um lugar de fantasmas e horrores, como na tradição clássica cristã. Em vez disso, encontramos ilhas repletas de salmões, salões de festas e pilares de prata que se erguem do mar. Há muitos desafios na forma de grandes animais, incríveis gigantes, ilhas de riso e lágrimas incessantes, mas cada um tem uma lição a ensinar."
(...)
"A jornada de Maelduin leva-o do mundo onde os homens e os seus feitos de armas predominam para o Outro Mundo, no qual vivem mulheres e maravilhas. O seu immram (jornada mística) torna-se uma profunda iniciação, permitindo-lhe tornar-se um adulto maduro. O que começa como uma viagem para a vingança contra os assassinos do seu pai, torna-se numa jornada educativa e numa exploração do Outro Mundo, conduzida pelo seu pai, ausente, do outro lado, o da morte."
III - A Ilha do Cavalo com Patas de Cão
A próxima ilha que encontram tinha um cavalo com patas de cão. Com a ansiedade própria do cachorro, o animal saltou sobre eles para comê-los. Quando os viu a fugir, a estranha criatura começou a escavar terra e pedras para os atingir.
O cavalo era um nobre animal de reverência na tradição celta. A combinação da ansiedade de um cão, da velocidade de um cavalo e da destreza de um humano é assustadora. Este é um dos muitos encontros nos quais os homens são uma parte importante da cadeia alimentar: uma experiência salutar para quem está acostumado a ser o agressor. As primeiras explorações da jornada interior são geralmente confusas, parecidas com os sonhos que sucedem a um dia agitado.
in O Livro Celta dos Mortos - A Jornada de Maelduin, de Caitlín Matthews