sábado, 3 de março de 2012

Praia do Encontro

Esta imaginação de sal e duna,
inquieta e movediça como areia,
ergue, isolada, a praia, mais a espuma
que sereia nenhuma
saboreia...

Quisesses tomar tu este veleiro,
que em secreto estaleiro construí,
sem velas, sem cordame, sem madeira,
- mas branco!, e todo inteiro
para ti...

Brilha uma luz de morte sobre o porto
saído mesmo agora da memória...
Ali estarei, à tua espera, morto,
ou vivo em minha morte
transitória...

Combinado. Que eu juro não faltar!
Contrário de Tristão, renascerei,
se pressentir, aérea, sobre o Mar,
a sombra singular
do barco que te dei.

David Mourão-Ferreira, Obra Poética, Lisboa, Bertrand, 1980


Alexandre Séon (1855-1917), Lamentos de Orfeu, 1896
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