inquieta e movediça como areia,
ergue, isolada, a praia, mais a espuma
que sereia nenhuma
saboreia...
Quisesses tomar tu este veleiro,
que em secreto estaleiro construí,
sem velas, sem cordame, sem madeira,
- mas branco!, e todo inteiro
para ti...
Brilha uma luz de morte sobre o porto
saído mesmo agora da memória...
Ali estarei, à tua espera, morto,
ou vivo em minha morte
transitória...
Combinado. Que eu juro não faltar!
Contrário de Tristão, renascerei,
se pressentir, aérea, sobre o Mar,
a sombra singular
do barco que te dei.
David Mourão-Ferreira, Obra Poética, Lisboa, Bertrand, 1980
Alexandre Séon (1855-1917), Lamentos de Orfeu, 1896