W.J. Neatby, La Belle Dame sans Merci
Le Morte d' Arthur, de Sir Thomas Malory, é a referência para esta história. Convém lembrar que a obra de Malory ajusta antigas tradições pagãs aos moldes cristãos...
Num dado momento da sua demanda pelo Santo Graal, Percival encontrava-se isolado numa ilha selvagem. Um dia, assistiu a um combate entre um leão e uma serpente. Matou a serpente pois considerava ser o leão o animal mais justo e nobre, e ganhou assim a confiança deste. De noite, sonhou com duas mulheres: uma, jovem e bela, montada num leão; outra, velha e decrépita, montada numa serpente. A donzela preveniu Percival que, na manhã seguinte, lutaria com o mais forte dos adversários, e que, se falhasse, perderia a sua reputação para sempre. Em seguida, desapareceu.
Então falou a Anciã. Disse que a serpente que ele tinha matado, lhe pertencia e que, para a compensar, ele deveria passar a servi-la. Percival recusou mas ela assegurou-lhe que o encontraria e que, no fim, seria seu.
No dia seguinte, um espectro de um homem muito velho apareceu a Percival e exortou-o a permanecer puro de coração e fiel ao ideal de cavalaria. Explicou-lhe que o leão e a jovem representavam a santa igreja, a nova fé, a esperança e o baptismo. Adiantou-lhe ainda que aquela que montava a serpente, era a velha lei - uma poderosa inimiga. E desapareceu.
A meio do dia, aportou na ilha um barco trazendo uma mulher muito bela. A donzela contou a Percival que tinha sido deserdada e banida da corte. O jovem cavaleiro logo ali prometeu ajudá-la e ela, em troca, deu-lhe comida e bebida.
Quanto mais tempo Percival estava na sua companhia, mais cativado ficava. Por fim, louco de desejo, implorou à donzela que fosse sua. Esta, de início, recusou, mas depois propôs-lhe o seguinte: que ele jurasse servi-la somente a ela e fazer tudo o que ela ordenasse e ela entregar-se-ia.
Enquanto o ardente Percival aguardava que a donzela se despisse, avistou o crucifixo incrustado na bainha da sua espada. Lembrando-se da sua demanda e das palavras do velho, persignou-se. Com isto, a bela sedutora esfumou-se nos ares, amaldiçoando-o.
Percival, julgando-se indigno da demanda por ter quase sucumbido à tentação, fere-se a si mesmo na coxa, com um golpe de espada, castigando assim a carne que o dominava. Contudo, o velho regressou com um barco e, enquanto eram levados dali pelo vento e pelas ondas, contou-lhe que a velha e a rapariga eram ambas o diabo.