quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Avalon

A ILHA DAS MAÇÃS

É virtualmente impossível estudar as tradições relativas a Artur e ao Graal sem encontrar o Outro Mundo. Nas suas aventuras, os cavaleiros desviam-se constantemente dos domínios humanos para entrarem no mundo sobrenatural e serem testados. No Outro Mundo, ou no Mundo-Além, as leis naturais não prevalecem e tudo é possível.

Nenhum outro lugar é tão evocado no Outro Mundo celta como Avalon. Derradeiro lugar de repouso de Artur, é lá que ele aguarda a chamada para novamente servir a terra, para terminar o trabalho que ficou por concluir depois do final da Demanda do Graal e da batalha sangrenta de Camlan que exterminou a Confraria da Távola Redonda.



Muitos tentaram descobrir a localização deste lugar encantado e, desde a Idade Média, que Glastonbury - this holiest earth -  lhe é associado. A tradição determina que foi lá que José de Arimateia, o portador do Graal, estabeleceu a primeira comunidade cristã na Britânia. E por lá viveram algum tempo São Patrício, Santa Brígida e São Columba.

Talvez não seja sensato atribuir um espaço físico a Avalon. Mas no tempo remoto dos senhores da guerra celtas, quando Somerset era conhecido como "The Summer Country" e quase não se destrinçava do Mundo-Além, Glastonbury era conhecida como Yniswtrin, o nome galês interpretado como A Ilha de Vidro, governada por Avalach, também chamado Rex Avalonis. Na tradição galesa, ele é o pai de Morgana, descrita como "The Royal Virgin of Avalon" - referindo-se este título à sua condição de guardiã hereditária e não a uma descrição literal.

Yniswitrin tornou-se Avalon, a Ilha das Maçãs, um lugar de mistério e encanto, que alberga uma taça sagrada e misteriosa, capaz de curar e dar vida, protegida por uma irmandade de sacerdotisas, que é liderada por Morgana - irmã de Artur, serva da Deusa.

Deste modo, uma paisagem interior foi delineada na tradição arturiana - Logres, o centro místico da Britânia, com os seus castelos reais em Camelot, Caerlon e Carlisle; com as suas densas florestas abrigando nascentes e poços sagrados, protegidos por fadas de beleza transcendental e por onde vagueiam os cavaleiros da Távola Redonda em busca de aventura. E, no centro, Avalon, a ilha mágica, passagem para a terra feérica, para o povo de Sidhe, que continuamente testa os seres humanos e, por vezes, os conduz às profundezas da terra, onde ainda dominam os Velhos Deuses...



Avalon é o lugar onde a eternidade toca a terra, onde qualquer coisa pode acontecer pois é o portal entre os mundos. É uma das "Ilhas Afortunadas"... Malory chama-lhe "o vale de Avilion" e Geoffrey de Monmouth descreve-o em detalhe:

The island of apples... gets its name from the fact that it produces all things of itself; the fields there have no need of the ploughs of the farmers and all cultivation is lacking except what nature provides. Of its own accord it produces grain and grapes, and apple trees grow in the woods from the close-clipped grass. The ground of its own accord produces everything instead of merely grass, and people live there a hundred years or more. There nine sisters rule by a pleasing set of laws those who come to them from our country... Thither after the battle of Camlan we took the wounded Arthur... Morgan received us with fitting honour, and in her chamber she placed the king on a golden bed and with her own hand she uncovered his honourable wound and... at length she said that health could be restored to him if he stayed with her for a long time and made use of her healing art.

Aqui, Avalon é um lugar de cura, um domínio de paz onde a inimizade entre Morgana e Artur é esquecida. Aqui também está Nimue, a Dama do Lago que encantou Merlim e o aprisionou numa caverna. Outro texto - a Gesta Regum Britanniae -  posterior ao de Monmouth, também descreve Avalon como intrinsecamente ligada à dimensão feérica.

This wondrous island is girdled by the ocean; it lacks no good things; no thief, reiver or enemy lurks in ambush there. No snow falls; neither Summer nor Winter rages uncontrollably, but unbroken peace and harmony and the gentle warmth of unbroken Spring. Not a flower is lacking, neither lilies, rose nor violet; the apple-trees bears flowers and fruit together on one bough. Youth and maiden live together in that place without blot or shame. Old age is unknown; there is neither sickness nor suffering - everything is full of joy. No one selfishly keeps anything to himself; here everything is shared.

Noutras culturas isto seria chamado um paraíso terrestre; para os celtas isto era o Outro Mundo, um lugar tão simples e tão real como outro qualquer na dimensão humana. Maravilhamo-nos perante um sítio onde a doença, o sofrimento e a tristeza não têm lugar; onde homens e mulheres vivem em paz e harmonia, e onde a terra fornece generosamente tudo o que é preciso, mas para os celtas é um lugar perfeitamente tangível, situado talvez para lá daquela floresta ou daquele monte...


O REINO MARAVILHOSO

Avalon é como um estádio perfeitamente equilibrado de existência, atingido por vezes na meditação, ou através da prática de certas disciplinas espirituais. É o coração gerador dos mistérios arturianos e o sítio onde todos os que procuram a compreensão desses mesmos mistérios devem chegar. Seja a demanda do Graal ou a do Coração, é em Avalon que os encontramos.

Mas tal só acontecerá se o desejarmos, se o desejo do bem, da cura da terra e dos corações feridos, for suficientemente forte para dissipar a escuridão que oprime o mundo. Os mitos arturianos, com todas as suas figuras arquetípicas, representam este sonho, baseado em histórias de valor, demandas e grandes feitos, e que almeja a união com o cosmos - a Távola Redonda das Estrelas....

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